Interview **1/2
Realização: Steve Buscemi. Elenco: Sienna Miller, Steve Buscemi. Nacionalidade: EUA / Canadá / Holanda, 2007.
“Interview” é o remake do filme de 2003 do holandês Theo van Gogh (descendente do irmão do outro Van Gogh). Faz parte de uma trilogia que o realizador tinha pensado adaptar ao mercado americano, antes de ter sido assassinado, em 2004, por um militante islamita em reacção ao seu filme “Submission”, que abordava a forma como as mulheres são tratadas nas nações muçulmanas. Os produtores Bruce Weiss e Gijs van de Westelaken decidiram dar continuidade a este projecto numa homenagem ao realizador. Dessa forma, o protagonista Steve Buscemi passou a co-argumentista e realizador – os outros dois filmes, “Blind Date” e “1-900” (remake de “06”) deverão ser realizados por Stanley Tucci e John Turturro, respectivamente).
Pierre Peders (Steve Buscemi) é um jornalista político castigado com um trabalho de perfil sobre uma celebridade, Katya (Sienna Miller). O seu primeiro contacto é marcado pelo desprezo mútuo. Katya está farta de fazer entrevistas e atrasa-se uma hora, Pierre, numa declarada falta de profissionalismo nem sequer pesquisou nada sobre ela. Um incidente conduz Pierre à casa de Katya (as maravilhas que eu fazia com aquele loft!!!) e é aí que se inicia entre eles uma escavação psicológica, onde camadas de defesa emocional vão sendo derrubadas. Ou talvez não.
As três câmaras digitais, utilizadas em simultâneo, ocupam o espaço (que poderia ser teatral) com agilidade, acompanhando a dança de poder que se estabelece entre os dois. Da sedução aos insultos, da compaixão à desconfiança, ela faz-se de tonta e ele faz-se de bêbado, ao ponto de não sabermos qual deles é o melhor actor, ou o melhor entrevistador.
Infelizmente, nenhuma das personagens parece ser movida por reais motivações, nem os seus subterfúgios nos surgem justificados. As circunstâncias não são sequer tão extremas que tornem a sua transformação plausível. Não se poderia, pois, esperar destes actores um trabalho superior a uma mediania onde nenhum deles normalmente reside.
“Interview” pretende ser um exame aos preconceitos sobre a celebridade e as celebridades, a essa indistinta fronteira onde termina a persona pública e começa a identidade privada. Um coisa é certa, se nos armarmos com condescendência e arrogância jamais chegaremos a conhecer a verdade do outro.