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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

El Método ***

04.11.05, Rita

Realização: Marcelo Piñeyro. Elenco: Eduardo Noriega, Najwa Nimri, Eduard Fernández, Pablo Echarri, Ernesto Alterio, Carmelo Gómez, Adriana Ozores, Natalia Verbeke. Nacionalidade: Espanha / Argentina / Itália, 2005.





Sete candidatos a um importante lugar numa empresa multinacional, fechados nos escritórios de um arranha-céus madrileno, enfrentam diversos testes que irão determinar qual o mais apto. O processo decorrerá segundo o Método Gronholm, uma herança americana, como não podia deixar de ser. Enquanto isso, na mesma rua de Madrid, desenrola-se uma manifestação anti-globalização diante do local de uma cimeira entre os países mais ricos do mundo.


A tensão das ruas transporta-se para a sala, quando os candidatos são informados de que entre eles há um espião da empresa, que irá observar os seus comportamentos e avaliá-los. Submetidos a um conjunto de provas cada vez mais surreais, serão os próprios candidatos, através dos seus comportamentos e escolhas, que irão determinando quem fica e quem é eliminado nesta corrida. Tacteando e medindo os outros, cuidadosos com os seus próprios passos, mas vorazes, são o espectáculo de circo romano perfeito para uma empresa que os observa sem se mostrar.


O argumento deste filme, de Marcelo Piñeyro (“Kamchatka”, 2002) e Mateo Gil, sócio de Amenábar em “Tesis” (1986), “Abre los Ojos” (1997) e “Mar Adentro” (2004), faz uma adaptação livre da peça teatral “El Método Gronholm”, de Jordi Galcerán, que esteve em cena entre nós com Marco Delgado, Maria João Bastos, António Pedro Cerdeira e José Boavida. A primeira diferença entre as duas abordagens reside no número de personagem, ampliado aqui para sete, como se dos sete pecados mortais se tratassem.


“El Método” apoia-se essencialmente nos diálogos e conflitos, mais e menos tácitos, que se estabelecem entre as personagens. A acção consiste em pouco mais do que um café ocasional e um ir à janela para esticar as pernas. Apesar disso, tem bom ritmo, fluidez e dose dramática. O reduzido espaço de acção ajuda a transmitir o ambiente claustrofóbico e inquietante a que os candidatos estão sujeitos, submissos perante a dureza da máquina empresarial.


Enquanto, do lado de fora, os manifestantes lutam pelos seus direitos e liberdades, estes candidatos são submetidos a provas que os tornam vítimas das suas próprias dúvidas, inseguranças, misérias e frustrações, com a única opção de, se recusarem fazer as provas, serem eliminados do processo.


Ao alargar o leque de personagens permite-se, por um lado, aumentar o número de suspeitos, para que o jogo da dinâmica de grupo dure o tempo do filme. Infelizmente, isso atenua a densidade das personagens, quando inevitavelmente comparadas com as da peça. Ainda assim, consegue-se o belíssimo momento em que uma simples frase descreve toda uma personagem: quando Fernando (Eduard Fernández) vai tomar o pequeno-almoço ao seu sítio habitual, recusa um conhaque ao empregado com um “no, hoy no”.


O elenco cumpre, apesar de algumas prestações mais fracas, nomeadamente de Eduardo Noriega (“Abre los Ojos” de Alejandro Amenábar, 1997 e “El Espinazo del Diablo” de Guillermo del Toro, 2001), Najwa Nimri (“Agents Secrets” de Frédéric Schoendoerffer, 2004 e “20 Centímetros” de Ramón Salazar, 2005), e Natalia Verbeke ( “El Hijo de la Novia” de Juan José Campanella, 2001 e “El Otro Lado de la Cama” de Emilio Martínez Lázaro, 2002). Um especial destaque vai para Eduard Fernández (“Fausto 5.0” de Álex Ollé, Isidro Ortiz e Carlos Padrisa, 2001) no papel de macho latino, para Ernesto Alterio (“El Otro Lado de la Cama” de Emilio Martínez Lázaro, 2002) como o inseguro, e para o promissor argentino Pablo Echarri como o pouco participativo. Mas Piñeyro comete o erro de dar mais protagonismo exactamente aos intérpretes mais fracos, e fica-se com pena de não ver mais Carmelo Gómez (“Entre las Piernas” de Manuel Gómez Pereira, 1999) e Adriana Ozores (“Héctor” de Gracia Querejeta, 2004). Piñeyro peca também por algumas cenas totalmente dispensáveis, quer para a intriga quer para a tensão.


Menos subtil que o texto de teatro na mensagem que transmite, “El Método” tem um final também distinto do da peça, ao qual fica a faltar o murro no estômago. Pedia-se um desfecho mais forte, mais cru e mais miserável.


No mercado compram-se escrúpulos e vendem-se integridades morais a preços de saldos. A empatia, a compaixão e os sentimentos são postos de lado, por objectivos MAIORES. É a sociedade devorando os seus eleitos. Quem já tenha participado em processos de selecção encontrará aqui exemplos bem perto da realidade. Por isso a força das conclusões a que chegamos quando pensamos na capacidade do ser humano para ser predador dele mesmo sejam tão assustadoras.


Já dizia Sean Connery em “Highlander” (1986): “In the end there can be only one.”



P.S. – Para os apreciadores dos anúncios da EVAX e que ainda estão ansiosos por saber o que tem ela tem na mala (cliquem na foto):