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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Silk **

27.03.08, Rita

Realização: François Girard. Elenco: Michael Pitt, Keira Knightley, Kôji Yakusho, Alfred Molina, Sei Ashina, Toni Bertorelli, Kenneth Welsh, Martha Burns. Nacionalidade: EUA, 2007.





‘Seda’, o livro de Alessandro Baricco tem pouco mais de 100 páginas, e é uma pungente história da amor, simples e simultaneamente surpreendente. A agilidade da sua escrita, sem floreados supérfluos, disfarça uma elevada densidade de emoções/sensações por página. Há mais de um ano atrás iniciei um exercício académico de adaptar este livro num argumento cinematográfico, primeiro porque o considero um livro altamente filmável e segundo porque se ia estar a esmiuçar todos os detalhes de alguma obra ao menos que fosse um dos meus livros preferidos. Nisto, descobri que o próprio escritor o estava ele mesmo a fazer essa adaptação e, também devido a outras solicitações, resolvi parar. Restou-me a curiosidade de ver se uma ou outra cena seria transformada em imagens semelhantes às que eu principiei a desenhar sozinha. Entretanto, Baricco saiu (ou foi afastado?) do projecto e é o próprio François Girard que assina também o argumento. Vendo o resultado final, percebe-se. A “Seda” resta-lhe muito pouco da mística de ‘Seda’, e nada, mesmo nada, da sua força.


Na França do século XIX, Hervé Joncour (Michael Pitt) é um homem cuja vida programada não tem margem para surpresas. Até o seu casamento com Hélène (Keira Knightley) parece simplesmente acontecer-lhe. Uma crise na produção de seda em França, da qual depende a economia local, leva Hervé a aceitar a proposta do produtor Baldabiou (Alfred Molina) para ir ao Japão e trazer os melhores ovos de bichos-da-seda do mundo. Aí, Hervé conhece Hara Kei (Kôji Yakusho), um homem poderoso, e a sua concubina (Sei Ashina), uma mulher misteriosa que, sem uma palavra, desperta algo desconhecido em Hervé.


Apesar do livro de Baricco não ser exaustivo na caracterização das personagens, beneficia do facto do leitor poder transpor para cada uma delas várias das suas facetas pessoais: em Hervé colocar as suas inseguranças, em Hélene as suas aspirações. No filme, no entanto, tudo assume um ar artificial quando não mesmo ridículo, dada a aridez das motivações emocionais.


“Seda” sofre ainda do péssimo casting de Michael Pitt, um actor de quem eu gosto bastante, mas cujo desencanto (tão útil na sua versão mais urbana) é completamente inverosímil no contexto desta história. Nesta apreciação não me consigo afastar da imagem que fiz de um homem moreno, um pouco mais velho e bastante mais ausente de si mesmo e dos seus sentimentos.


Deveria ter gerido melhor as minhas expectativas? Talvez... Eu queria definitivamente mais desta transposição daquilo que eu considero um “ensaio” sobre a passividade do homem, no amor como na vida, em contraste com a lucidez e a capacidade decisória da mulher. Mas mesmo apesar da artística fotografia de Alain Dostie e da música competente de Ryuichi Sakamoto, “Seda” mantém-se à margem, tal como este Japão de 1800, isolado do resto do mundo.















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