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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Gone Baby Gone ***

25.03.08, Rita

Realização: Ben Affleck. Elenco: Casey Affleck, Michelle Monaghan, Morgan Freeman, Ed Harris, John Ashton, Amy Ryan, Amy Madigan, Titus Welliver. Nacionalidade: EUA, 2007.





Descontentes com os esforços policiais para encontrar Amanda, a sua sobrinha de 4 anos desaparecida, Bea McCready (Amy Madigan) e o seu marido Lionel (Titus Welliver) contratam os serviços de Patrick Kenzie (Casey Affleck) e Angie Gennaro (Michelle Monaghan), um casal de detectives privados de Boston. Trabalhando em conjunto com os detectives Remy Bressant (Ed Harris) e Nick Poole (John Ashton), da task force de crimes contra crianças coordenada por Jack Doyle (Morgan Freeman), os dois focam a sua investigação junto das pessoas do bairro que se recusam a falar com a polícia, incluindo o círculo de criminosos em torno de Helene McCready (Amy Ryan), a mãe de Amanda, um farrapo de drogas e álcool.


“Gone Baby Gone” baseia-se no livro de Dennis Lehane (autor de "Mystic River" que usou as personagens de Kenzie e Gennaro em mais três livros), numa adaptação de Aaron Stockard e Ben Affleck, que parece ter encontrado o lado certo da câmara, depois de nos ter sujeitado durante tanto tempo à penitência de o ver à frente dela. O seu filme de estreia como realizador é um trabalho surpreendentemente competente e ágil em perfeito equilíbrio com o talento interpretativo do irmão Casey (“The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford”).


O trabalho de câmara impregna ao filme um look quase documental, para o que também contribui o conhecimento profundo das idiossincrasias locais de Boston (e do seu forte sotaque), de onde os Affleck são naturais. Essa genuinidade reforça o impacto emocional deste que, mais do que um thriller é um estudo da natureza humana. Num ambiente de aldeia fechada os rancores e as raivas são profundos e dissimulados. O segredos bem guardados são igualmente bem revelados (e com sentido) no desenvolver da história, traduzindo-se não num engano mas numa recompensa para o espectador.


A acção é marcada por um relógio abstracto que mede o tempo de desaparecimento da criança e, consequentemente, o melhor ou pior desfecho. Mas é exactamente a gestão deste tempo a grande fraqueza de “Gone Baby Gone”, lento na ausência de informação e demasiado apressado nos twists, prejudicando a sua assimilação.


O inevitável pano de fundo do caso ‘Maddie’ é facilmente ultrapassado com uma história que foge ao óbvio. Em vez de se focar no drama parental “Gone Baby Gone” versa sobre o a impotência social e o desespero profissional no desaparecimento de uma criança inocente no seio de uma sociedade corrupta.


O dilema moral é de cada personagem (e o de Patrick beneficia de uma interpretação sóbria e low-key de Cassey Affleck), não existe uma solução perfeita dada de bandeja. Simplesmente porque ela não existe, porque mal e bem não são pólos opostos, e porque dois males não constituem automaticamente um bem. O julgamento moral é feito no tribunal da nossa consciência.






CITAÇÕES:


“I always believed it was the things you don't choose that makes you who you are. Your city, your neighborhood, your family. People here take pride in these things, like it was something they'd accomplished. The bodies around their souls, the cities wrapped around those. I lived on this block my whole life; most of these people have. When your job is to find people who are missing, it helps to know where they started. I find the people who started in the cracks and then fell through. This city can be hard. When I was young, I asked my priest how you could get to heaven and still protect yourself from all the evil in the world. He told me what God said to His children. "You are sheep among wolves. Be wise as serpents, yet innocent as doves."
CASEY AFFLECK (Patrick Kenzie)