Sweeney Todd ***
Realização: Tim Burton. Elenco: Johnny Depp, Helena Bonham Carter, Alan Rickman, Timothy Spall, Sacha Baron Cohen, Jamie Campbell Bower, Laura Michelle Kelly, Jayne Wisener, Ed Sanders. Nacionalidade: EUA, 2007.
Dada a paixão de Tim Burton pelo gótico e pelo macabro seria quase inevitável esta adaptação ao cinema do premiado musical de 1979 "Sweeney Todd The Demon Barber of Fleet Street" da autoria de Stephen Sondheim e Hugh Wheeler – com argumento da responsabilidade de John Logan (“The Aviator”). Evocando uma versão mística da Londres do século XIX, com fortes ligações a Dickens, Burton integra nesta história de terror satírico, ao mesmo tempo bizarra e romântica, elementos que nos levam a obras suas anteriores, como é o caso de “Sleepy Hollow” ou “Edward Scissorhands”.
O barbeiro Benjamin Barker (Johnny Depp) vivia feliz em Londres com a sua filha pequena e a mulher Lucy (Laura Michelle Kelly). Até ao dia em que, movido pela luxúria e a cobiça, o juíz Turpin (Alan Rickman) o sentencia ao exílio na Austrália, raptando a sua mulher e filha. 15 anos depois Benjamin regressa a Londres na companhia do jovem marinheiro Anthony Hope (Jamie Campbell Bower). Procurando a sua antiga barbearia, Benjamin encontra-a ocupada por Mrs. Lovett (Helena Bonham Carter), famosa pelas suas tartes de carne, as piores de Londres. Por ela, Benjamin fica a saber que a sua mulher se suicidou e a sua filha Johanna (Jayne Wisner) é agora prisioneira de Turpin. Consumido pela raiva e jurando vingança, Benjamin, assumindo a identidade de Sweeney Todd, reabre o seu antigo negócio mas com um novo propósito (puristas da economia poderiam referir-se a ‘posicionamento estratégico’).
Longe dos típicos musicais, esta é uma sangrenta história de vingança, onde heróis e vilões são igualmente vis e cruéis, onde a inocência é corrompida, o desespero pelo amor perdido alimenta a tragédia e as consequências devastadoras da obsessão se tornam inevitáveis. E também há muitas tartes, claro.
O design de produção de Dante Ferretti é estilizado, as ruas são sujas e os becos escuros, as lentes da câmara de Dariusz Wolski sombrias e o guarda-roupa de Colleen Atwood consegue ser luxuriante e degradado ao mesmo tempo. Sobre a paleta de negros e cinzas, o vermelho do sangue torna-se um rasgo de força. A luminosidade e a cor são reservados para pequenos pedaços de esperança, seja em sonhos seja na possibilidade de saída do esgoto londrino.
“Sweeney Todd” é um festim para os olhos, ainda que não para os ouvidos. Apesar da inegável qualidade das letras escritas por Stephen Sondheim, e de um esforço para que o foco seja na dramatização e na narrativa, as canções, maioritariamente confissões angustiadas, são incontornáveis. Mas são também invasivas. Cada vez que um dos actores irrompe a cantar é necessário um esforço de abstracção para continuar com a história. E isso não tem a ver com o facto de grande parte deles ser sofrível nesse campo, a competência das interpretações e a sua atracção visual faz-nos superar esse handicap. Mas questiono-me se a alternativa de declamação dos textos poderia ter sido mais eficaz.
“Sweeney Todd” conta com um elenco de excepção. Helena Bonham Carter, de olhos escuros e esperançosos, está perfeita na sua amoralidade e doçura. Alan Rickman é arrepiante, Timothy Spall repelente. Sacha Baron Cohen compõe um divertido e pomposo barbeiro italiano: Adolfo Pirelli, rival de Todd. Mas é Johnny Depp, como um homem sem misericórdia que se deixa consumir pelo seu lado negro, que nos arrebata. A sua entrega (e o seu divertimento) é total. E a cumplicidade com o realizador transparece em cada cena. Nas mãos de Burton, Depp é um instrumento perfeitamente afiado. E letal!
NO PLACE LIKE LONDON
(...)
There's a whole in the world like a great black pit
and the vermin of the world inhabit it
and its morals aren't worth what a pin can spit
and it goes by the name of London.
At the top of the hole sit the previlaged few
Making mock of the vermin in the lonely zoo
turning beauty to filth and greed...
I too have sailed the world and seen its wonders,
for the cruelty of men is as wonderous as Peru
but there's no place like London!
(...)
MY FRIENDS
(...)
Rest now, my friends.
Soon, I'll unfold you.
Soon you'll know splendors
You never have dreamed
all you days,
my lucky friends
'Til now your shine was merely silver.
Friends, you shall drip rubies, you'll soon drip precious rubies...
AT LAST! MY RIGHT ARM IS COMPLETE AGAIN!
WAIT
(...)
Hush, love, hush,
Think it through.
Once it bubbles, then
What's to do?
Watch it close.
Let it brew.
Wait.
(...)
Slow, love, slow.
Time's so fast.
Now goes quickly, see
Now it's past!
Soon will come,
Soon will last.
Wait.
Don't you know,
Silly man?
Half the fun is to
Plan the plan!
All good things
Come to those who can
Wait.
(...)
EPIPHANY
(...)
They all deserve to die.
Tell you why, Mrs. Lovett, tell you why.
Because in all of the whole human race
Mrs Lovett, there are two kinds of men and only two
There's the one they put in his proper place
And the one with his foot in the other one's face
Look at me, Mrs Lovett, look at you.
Now we all deserve to die
Tell you why, Mrs. Lovett, tell you why.
Because the lives of the wicked should be made brief
For the rest of us death will be a relief
We all deserve to die.
(...)