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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Lonely Hearts ***

17.01.08, Rita

Realização: Todd Robinson. Elenco: John Travolta, James Gandolfini, Jared Leto, Salma Hayek, Scott Caan, Laura Dern, Michael Gaston, Bruce MacVittie, Dan Byrd, Andrew Wheeler. Nacionalidade: Alemanha / EUA, 2006.





“Lonely Hearts” recupera o caso dos serial killers Ray Fernandez (Jared Leto) e Martha Beck (Salma Hayek), um casal que na América do final dos anos 40 fez diversas vítimas entre mulheres que Ray ia conhecendo através de anúncios classificados e que foi executado na prisão de Sing Sing em 1951 (um dos retratos mais célebres destes eventos foi feito por Leonard Kastle em 1970 no filme “The Honeymoon Killers”).


Martha começa por ser uma das vítimas de Ray, um homem vaidoso e superficial, cujo modo de vida dependia do dinheiro que conseguia obter destas relações. Entre almas gémeas e atracção fatal, Martha acaba por se tornar sua cúmplice. Dominadora e possessiva, Martha era uma sociopata cuja auto-estima dependia directamente do poder que exercia sobre Ray. O seu impulso para o assassínio advinha do receio de que ele se pudesse apaixonar por alguma destas mulheres, e a prova de amor que ela exigia era Ray estar disposto a matar por ela.


Após um crime no condado de Nassau, Nova Iorque, o polícia Elmer Robinson (John Travolta) fica obcecado com a detenção do casal. Após o inexplicável suicídio da sua mulher, dois anos antes, Robinson afastou-se do seu filho adolescente (Dan Byrd) e a relação com a sua namorada e colega Rene (Laura Dern) é pouco mais que fria. O seu colega Charles Hildebrandt (James Gandolfini, sem sair exactamente do registo Soprano, tirando o facto de estar do outro lado da lei) apoia o entusiasmo redobrado com que Elmer abraça este caso.


Como neto na vida real de Elmer Robinson, o realizador e argumentista Todd Robinson empresta o seu entendimento pessoal da história, obtida em relatos na primeira pessoa, no todo, competente, mas sem grandes rasgos. No que respeita ao casting de Martha Beck, no entanto, Todd Robinson não conseguir conter a sua criatividade. Longe de ser uma mulher fatal como Hayek a retrata, a real Martha Beck devia bastante à beleza e era bem mais volumosa (aliás, a sua execução teve de ser adiada porque o seu corpo excedia o tamanho da cadeira eléctrica). Mas se eu fosse realizador também quereria à força “usar” Salma Hayek como a ‘femme fatal’ do meu film noir. Até porque, no que toca à explosiva insanidade de Martha, Hayek não falha.


Pelo seu lado, Jared Leto, a quem apenas falha um sotaque que se esperaria mais latino tendo em conta os pais espanhóis de Ray Fernandez e a vivência nesse país, é surpreendentemente versátil na sua passagem, às mãos de Martha, de gigolo charmoso a animal enjaulado, e a cujo último suspiro falta a dignidade falseada em vida.


John Travolta volta a marcar pontos e é só graças à sua equilibrada interpretação, que não abandonamos uma personagem tão desligada e emocionalmente reprimida.


Os tons pastel da fotografia de Peter Levy e as sombras emprestam a melancolia que envolve a brutalidade dos actos. Love hurts.






CITAÇÕES:


“Has anybody ever loved you that much, detective? To kill or die... for you?”
SALMA HAYEK (Martha Beck)

“Martha Beck – You know what they say about cops and donuts?
Charles Hilderbrandt – No, what?
Martha Beck – Neither one's any good without a hole in them.
Charles Hilderbrandt – They say that about women, too.”
SALMA HAYEK (Martha Beck) e JAMES GANDOLFINO (Charles Hilderbrandt)