Lions For Lambs ****
Realização: Robert Redford. Elenco: Robert Redford, Meryl Streep, Tom Cruise, Michael Peña, Derek Luke, Andrew Garfield, Peter Berg, Kevin Dunn. Nacionalidade: EUA, 2007.
O primeiro lançamento da nova United Artists sob a gestão de Tom Cruise aborda o fracasso da chamada guerra ao terror da administração Bush que, sem ganho para a nação, tem custado a vida a milhares de soldados americanos. O argumento de Matthew Michael Carnahan (autor de “The Kingdom”) tem uma abordagem tripartida, cada uma delas apresentada por um par de personagens.
Na vertente política está o Senator Jasper Irving (Tom Cruise), uma nova força no Partido Republicano, que concede uma entrevista exclusiva à jornalista (liberal e céptica) Janine Roth (Meryl Streep) sobre uma nova estratégia que permitirá ganhar a guerra ao terror. Do lado filosófico está Stephen Malley (o próprio Redford), professor numa universidade na Califórnia, que chama ao seu gabinete o aluno Andrew Garfield (Todd Hayes) para discutir as recorrentes faltas às suas aulas de Ciência Política, e lhe contar a história de Ernest Rodriguez (Michael Pena) e Arian Finch (Derek Luke), dois seus antigos alunos. São eles os protagonistas da vertente mais real, já como soldados numa ofensiva militar nas montanhas nevadas do Afeganistão, tentam ocupar um ponto estratégico, no âmbito do novo plano delineado nas mesas de Washington.
“Lions For Lambs” é um filme politicamente inflamado, com diálogos poderosos, impregnados de paixão e convicção. Inteligente e provocador, “Lions For Lambs” olha de perto diversas instituições da sociedade americana (política, educação, media), questionando o papel dos EUA como “polícias do mundo” e as suas acções como “força do bem”, chamando a atenção dos cidadãos mergulhados em cinismo e apatia, e instigando-os a empenharem-se (da mesma forma que Malley tenta fazer com Andrew, para que ele use o seu - frágil porque fugaz - potencial).
“Lions For Lambs” é um filme denso, condensando uma elevada quantidade de informação e ideias, numa retórica quase infindável de perguntas e respostas. A acção decorre durante umas horas, nas quais são tomadas cruciais decisões militares, uma jornalista se debate entre uma forte matéria jornalística e a resignação ao satus quo, um jovem é confrontado com a possibilidade de fazer a diferença, e dois outros jovens tentam sobreviver perdidos e feridos no meio da montanha.
A montagem de Joe Hutshing é ágil e a fotografia de Philippe Rousselot cria ambientes de tonalidades distintas. E apesar de algumas soluções dramáticas previsíveis, como o passeio de Janine Roth ao longo do memorial às vítimas da guerra, Redford consegue algumas cenas de grande impacto emocional, como aquela em que Rodriguez e Finch revelam o seu alistamento no exército americano. “Lions For Lambs” tem também a seu favor três actores que estão ao seu melhor nível, incorporando personagens complexas.
“Lions For Lambs” sintetiza argumentos que têm sido lançados a favor e contra a política de defesa americana, marcando claramente a sua posição política e moral, criticando a cultura mediática que tem alimentado muita dessa política e apelando à responsabilidade pessoal. Neste tríptico existe sacrifício inútil, confronto e resignação, e uma vaga esperança. Alguns dos possíveis cenários da escolha (necessária, urgente?) entre ser-se leão ou cordeiro.
CITAÇÕES:
“Nowhere else have I seen such lions led by such lambs.”
ROBERT REDFORD (Professor Stephen Malley, citando um general alemão)
“But you're never going to be the same person you are right now. Promise and potential are very fickle.”
ROBERT REDFORD (Professor Stephen Malley)
“All I want to say is that you're an adult now. And the tough thing about adulthood is that it starts before you even know it starts. When you're already a dozen decisions into it.”
ROBERT REDFORD (Professor Stephen Malley)