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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Paranoid Park ***

06.12.07, Rita

Realização: Gus Van Sant. Elenco: Gabe Nevins, Taylor Momsen, Jake Miller, Dan Liu, Lauren McKinney, Scott Green. Nacionalidade: França / EUA, 2007.





Alex (Gabe Nevins) é um jovem skater de Portland com um namoro morno com Jennifer (Taylor Momsen), uma cheerleader indecisa em começar a sua vida sexual. Aliás, “morno” será a palavra que melhor descreve a relação de Alex com o mundo que o rodeia. Passivo e apático, ele é o produto de uma família desfeita. Sem um modelo moral, quer em casa quer na escola, a Alex faltam-lhe interlocutores com quem partilhar as angústias da sua busca de identidade. Paranoid Park, um recinto ilegalmente construído para a prática de skate, é o epíteto da libertação, ainda que temporária, das restrições e preocupações da realidade, através do desafio da gravidade.


Apesar de se considerar ainda verde para o experimentar, Alex deixa-se convencer pelo amigo Jared (Jake Miller) a visitar o Paranoid Park. Mas, como muitas das experiências da juventude, esta acabará por se revelar determinante para a definição de Alex como ser humano. Um acidente fatal, o bloqueio emocional e o dilema moral daí decorrentes serão integrados num processo de crescimento, onde a inocência terá necessariamente de ser substituída por algo a que podemos chamar de coragem (ou culpa).


Gus Van Sant foca-se novamente na juventude (e subculturas) da classe trabalhadora, numa adaptação livre do livro de Blake Nelson. Fazendo novamente uso de actores não profissionais, seleccionados através do myspace.com, Van Sant volta a acertar em cheio com Gabe Nevins, uma mistura de beleza, vulnerabilidade e amoralidade que coloca na sombra o restante (e mais sofrível) elenco.


A estrutura temporal da narrativa acompanha a escrita desordenada que Alex faz no seu caderno de notas, com avanços e recuos ao ritmo do preenchimento dos buracos que ele mesmo tinha recalcado. Gus Van Sant manipula a câmara (lenta) para transmitir o tempo psicológico do seu protagonista. A lenta deslocação de Alex nos corredores do liceu, um close-up do seu olhar vazio, e o acompanhamento musical adequado “obrigam-nos” a partilhar a sua angústia (numa versão moderna de um “Crime e Castigo”). À câmara, essencial e imparcial, só lhe falta entrar endoscopicamente no corpo de Alex.


A cargo dos 35mm está o director de fotografia Christopher Doyle (colaborador recorrente de Wong Kar Wai e autor de um dos segmentos de “Paris, Je T’Aime”), enquanto o flexível Super 8 das cenas de skate é da responsabilidade de Kathy Li. O design de som de Leslie Shatz vai de opções tão díspares como Nino Rota, compositor de muitas obras de Fellini, e Elliott Smith, mas nenhuma delas ao acaso.


Gus Van Sant usa o espaço vazio como elemento opressivo. Os fundos, desfoca-os, como se pretendesse retirar o elemento contextual da história, concentrando a sua preocupação no acto e não na razão subjacente ao acto. Faz uso de um grupo (os skaters) que não funciona como comunidade, num desporto individual que ganha pela partilha com outros, mas que não envolve uma comunicação directa entre os seus praticantes. Sem o julgar, observa Alex e a forma como ele interage (ou não) com as pessoas ao seu redor (pais, namorada, amigos, colegas) e como lida com as consequências dos seus actos (ou da sua inacção). A sua abordagem pode aparentar um minimalismo que favorece o estilo sacrificando a história, mas a intensidade de algumas cenas, como o rompimento do namoro ou o acidente, provam que Van Sant diz exactamente aquilo que quer dizer. Goste-se ou não.
















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