Factory Girl ***
Realização: George Hickenlooper. Elenco: Sienna Miller, Guy Pearce, Hayden Christensen, Jimmy Fallon, Jack Huston, Armin Amiri, Tara Summers, Mena Suvari, Shawn Hatosy, Beth Grant, James Naughton. Nacionalidade: EUA, 2006.
Edie Sedgwick era uma jovem e rica estudante de arte que no final dos anos 60 se muda para Nova Iorque e entra em contacto com o mundo bizarro de Andy Warhol. Esta pobre menina rica, cuja juventude foi marcada por um pai abusivo, por um internamento psiquiátrico e pela morte de dois irmãos, sai de um mundo de privilégios e entra, sem reservas, na cena artística nova-iorquina, movida por estilos e modas e marcada por excessos. Warhol faz dela a sua musa, incluindo-a em diversos dos seus filmes experimentais, e tornando-a numa estrela dos media e num dos ícones da pop art – a 'It girl' dos 60s. A par da espiral crescente da fama, que Sedgwick parece sempre sentir como imerecida, ela entra na espiral descendente das drogas e, em 1971, Edie Sedgwick morre vítima de overdose. Tinha 28 anos.
O filme de George Hickenlooper tem início em 1970, com uma sessão de terapia de Edie (Sienna Miller), após ter regressado à Califórnia para uma cura de desintoxicação, e termina com uma selecção de fotografias da Edie real e segmentos de entrevistas de alguns que a conheceram. Mas o cerne de “Factory Girl” é a relação desta frágil mas fascinante actriz-modelo-artista com o enigmático e magnético Andy Warhol (Guy Pearce), para quem Edie foi uma espécie de Holly Golightly. Hickenloope tenta retratar a atmosfera da Factory, o estúdio onde se centrava a produção artística de Warhol, povoado por um caleidoscópio de artistas, encarregados de materializar as fantasias de Warhol. Mas nesta visão fica a faltar uma certa força à aura das personagens e à essência da Factory.
Sienna Miller (“Casanova”, “Alfie”) tem uma interpretação competente, mas ofuscada por um Guy Pearce brilhante em cada detalhe de reprodução dos trejeitos do excêntrico Andy Warhol. Hayden Christensen surpreende na personagem de Billy Quinn, especialmente no trabalho de voz daquele que é um não oficial retrato de Bob Dylan(Dylan ameaçou com uma acção legal caso o argumento não fosse revisto, exigiu a mudança do nome da personagem e recusou qualquer ligação a este projecto).
“Factory Girl” é um biopic indiscutivelmente parcial. Sedgwick surge desculpabilizada das suas escolhas, com base na sua ingenuidade e vulnerabilidade, Warhol, sem qualquer benefício, é mostrado como um predador da beleza, o feiticeiro que a cativa e explora. De fora fica a ambição e a escuridão que a envolvia. A força de “Factory Girl” é, sobretudo visual, graças ao óptimo trabalho de reconstituição do designer de produção Jeremy Reed e o guarda-roupa de John Dunn. À semelhança do mundo que retrata, “Factory Girl” é, essencialmente, um produto plástico. E é nessa plasticidade – e no misticismo que está por trás dela – que reside a sua força.
Edie Sedgwick (1943-1971)