Jindabyne ***
Realização: Ray Lawrence. Elenco: Laura Linney, Gabriel Byrne, Deborra-lee Furness, John Howard, Leah Purcell, Stelios Yiakmis, Alice Garner, Simon Stone, Betty Lucas, Chris Haywood, Eva Lazzaro, Sean Rees-Wemyss, Tatea Reilly. Nacionalidade: Austrália, 2006.
Numa viagem de pescaria, quatro amigos – Stewart (Gabriel Byrne), Carl (John Howard), Billy (Simon Stone) e Rocco (Stelios Yiakmis) – descobrem o cadáver de uma jovem mulher de origem aborígene flutuando no rio. Mas em vez de comunicarem de imediato o incidente à polícia, e apesar do choque inicial, eles decidem ficar e terminar o seu fim-de-semana, como planeado. Arranjando uma forma de o corpo não desaparecer rio abaixo, os dias passam sem grandes palavras. Mas, ao regressam a casa, os efeitos da sua acção estendem-se de uma forma catastrófica ao seu redor, quer a nível social quer emocional, levantando questões morais acerca do seu comportamento e testando a confiança das pessoas mais próximas. Os meios de comunicação, a família da rapariga morta, e as suas próprias família, nomeadamente Claire (Laura Linney), a esposa de Stewart, mostram-se chocados com a frieza destes homens.
Baseado livremente no conto ‘So Much Water So Close to Home’ de Raymond Carver (que também serviu de base ao filme “Short Cuts” de Robert Altman), o filme de Ray Lawrence (“Lantana”, 2001) tem a sua acção situada na cidade de Jindabyne, resultante da deslocação dos habitantes de uma velha cidade ficou submergida em virtude do projecto hidroeléctrico da região das Snowy Mountains, em New South Wales. À semelhança do lago que cobre a antiga cidade, também os seus habitantes guardam um passado do qual preferem não falar. “Jindabyne” respeita isso e é, como tal, um filme silencioso onde se espreita a crise que se instala na comunidade após o brutal assassinato.
“Jindabyne” não é sobre a perseguição e a captura, mas sobre a forma de lidar com a morte num contexto de convivência de diferentes culturas. Aquele que deveria ser um momento de ligação à natureza e às suas raízes, é marcado pela dessacralização de um lugar. O argumento de Beatrix Christian recusa-se a escolher heróis, dotando as suas personagens de vulnerabilidade, de dúvida, raiva, dor e vergonha. Sem oferecer respostas morais, “Jindabyne” debruça-se sobre a responsabilidade social, evocando a necessidade de reequilibrar a balança do mal e da sua devastação com o bem e com o perdão.
Ray Lawrence confia nos seus actores, e tanto Gabriel Byrne como Laura Linney apresentam duas interpretações sólidas, honestas e contidas. Em contraste com o horror moral é colocada a beleza rural da Austrália, graças à fotografia de David Williamson, marcada por uma iluminação natural. E em oposição a um casal que se desmantela em virtude dos seus segredos, um outro casal, composto pelo jovem Billy (Simon Stone) e a namorada Elissa (Alice Garner), tem como um dos seus alicerces essenciais a comunicação.
“Jindabyne” é um filme subtil que consegue ter momentos perturbantes a rasar o thriller. Pode ser assustador pensar que, para o melhor e para o pior, os nossos pequenos actos podem tornar-se imensos quando medidos na proporção das suas consequências, tornando-nos, ao mesmo tempo, poderosas armas e insignificantes elementos de um todo.