“Um filme sobre foda e acidentes de automóveis. Como é que é possível não gostar ?”
Esta foi a critica que ouvi de um colega meu de faculdade há uns anos atrás em relação ao “Crash” do Cronenberg. E a verdade que desde esse dia que esta frase se me apresenta como a mais perfeita critica de cinema que alguma vez ouvi. È claro que pecava por ser incompleta (o filme de facto era mais do que isso), mas o que é inegável é que ia direita ai assunto. E tudo numa frase.
Desde esse dia, tentei várias vezes fazer o mesmo, mas sempre sem sucesso. Até hoje.
Não faço a mínima ideia por onde andará esse meu colega nos dias de hoje, mas se o encontrasse na rua diria-lhe uma coisa. “Vai ver o último filme do Tarantino. Hás-de gostar”. “É sobre quê? È sobre gajas boas e carros velozes”. E pronto. Com isto ficava tudo dito. Numa só frase. Bem, na verdade não ficava. Ou melhor dizendo, teria que ser ligeiramente reformulada, porque a frase para ser completa tinha que referir Tarantino. È que misturadas com estes dois ingredientes, as gajas e os carros, estão as marcas de Tarantino, os longos diálogos sobre nada, (mas desta vez em de conversa de bandidos estamos perante conversas de miúdas da pesada (como é que se traduz “kick-ass girls”?)), mais as referencias cinéfilas e musicais apontadas aos anos 70 e autocitações ao universo tarantiano (a Rosário Dawson tem um toque de telemóvel igual ao meu). E sem esquecer, claro, os grandes planos de pés femininos. Daí que a frase completa para resumir este filme teria que ser outra :
“É um filme do Tarantino sobre gajas boas e carros velozes”.
Mas acreditem, com isto está tudo dito. (Bem talvez a Rita consiga dizer mais alguma coisita). Mas para mim resumo-o a isto. E numa só frase.
Se é bom? É um filme do Tarantino. Isso responde à questão.
P.S. Em relação à questão sobre a exibição na Europa deste filme em separado do filme de Robert Rodrigues, que em conjunto compunham um sessão única, o que posso dizer é que, ultrapassando a questão de que se trata de uma adulteração da ideia original dos autores o que só por si a torna uma decisão negativa, a verdade é não me chateia a troca de mais 30 minutos de Tarantino por 90 de Rodriguez. Tenho pena de não ver falsos traillers, no entanto.