Alatriste ***
Realização: Agustín Díaz Yanes. Elenco: Viggo Mortensen, Unax Ugalde, Eduardo Noriega, Ariadna Gil, Elena Anaya, Javier Cámara, Enrico Lo Verso, Juan Echanove, Eduard Fernández, Blanca Portillo. Nacionalidade: França / Espanha / EUA, 2006.
Condensando os cinco livros de Arturo Pérez-Reverte sobre as aventuras do ‘Capitão’ Alatriste, um espadachim a soldo, na Espanha do Século XVII, “Alatriste” é a produção mais cara do cinema espanhol, em redor da qual se juntou um elenco liderado pelo ‘estrangeiro’ (americano) Viggo Mortensen.
Da guerra na Flandres em 1622 até à de Rocroi em 1643, Alatriste é ainda envolvido em manipulações políticas e religiosas, ao ser encarregado de matar dois estrangeiros que chegam a Madrid. A cargo do filho de um companheiro de batalha, Íñigo (Unax Ugalde), o seu coração é testado pela adúltera actriz María de Castro (Ariadna Gil), enquanto a protecção do seu companheiro de armas Conde de Guadalmedina (Eduardo Noriega) será pesada com as exigências impostas pelo Conde Duque de Olivares (Javier Cámara), conselheiro do Rei Felipe IV.
Naquele que poderia servir para um bom retrato de Espanha, numa época sombria em que o império começava a desmoronar-se à conta de mercenários e intrigas palacianas, Agustín Díaz Yanes (“Sin Noticias de Dios”, 2001) opta por um drama pessoal centrado nas noções de honra e pátria. Mas nas lutas retratadas não existe heroísmo e a guerra assume o seu lado mais patético. O colorido romântico, veiculado por amores eternamente adiados, apenas acrescenta uma maior escuridão (que, por falta de um argumento verdadeiramente forte, nunca atinge o pretendido tom de tragédia).
Meio perdido entre o social e pessoal, Díaz Yanes não consegue que a transição entre cenas seja feita com fluidez. Em vez disso, sucessivos saltos temporais e geográficos, que pretendem abarcar demasiados acontecimentos, acabam por impedir que se forma na mente do espectador um todo coerente. O fio condutor é Alatriste, um homem corajoso, calculista, sentimental e pragmático ao qual Viggo Mortensen empresta o seu corpo e voz sussurrada, mas que está longe de ser a sua mais forte interpretação. Uma nota para dois actores celebrizados no país vizinho pela série televisiva “Siete Vidas”: Javier Cámara e Blanca Portillo, travestida no papel de Frei Emilio Bocanegra.
O visual Velazquiano, e a lembrar o ambiente das histórias de Dumas, é conseguido à conta de um grande trabalho de fotografia e iluminação por parte de Paco Femenia, de direcção de arte de Benjamín Fernández e de guarda-roupa de Francesca Sartori. Para 24 milhões de euros de financiamento, a ambição de Díaz Yanes não parece muita, mas o resultado final parece pouco.
CITAÇÕES:
“Los sobornos mantienen las bocas cerradas y las voluntades abiertas.”
EDUARDO NORIEGA (Conde de Guadalmedina)
“Cuenta lo que fuimos.”
EDUARD FERNÁNDEZ (Sebastián Copons)