Curse of the Golden Flower ***
T.O.: Man cheng jin dai huang jin jia. Realização: Zhang Yimou. Elenco: Chow Yun-Fat, Gong Li, Chou Jay, Liu Ye, Ni Dahong, Qin Junjie, Li Man, Chen Jin. Nacionalidade: Hong Kong / China, 2006.
O argumento co-escrito por Zhang Yimou, Wu Nan e Bian Zhihong adapta a peça de teatro de 1934 da autoria de Yu Cao situando a acção do filme no século X, durante a curta dinastia Tang. “Curse of the Golden Flower” não pretende fazer qualquer reprodução histórica, colocando-se antes ao nível de uma tragédia grega e/ou shakespeariana sob o peso da ancestral cultura chinesa.
A família real chinesa vive um período complicado. O imperador (Chow Yun Fat) decidiu envenenar a esposa (Gong Li), acrescentando um fungo ao seu remédio para a anemia. A emperatriz tem um envolvimento sexual com o seu enteado, o príncipe herdeiro (Lie Ye), que por sua vez tem um relacionamento amoroso com Chan (Li Man), a filha do médico imperial (Ni Dahong). O filho mais velho da imperatriz, o príncipe Jai (Jay Chou), regressou de um longo período de treino, mostrando ser o mais apto a assumir o trono. Em segundo plano está o mais novo e menos atendido príncipe Yu (Qin Junjie). Quando a imperatriz descobre os planos de envenenamento do seu marido, desenha um plano de vingança que vai testar a lealdade do seu filho Jai.
Apesar de conter a típica batalha épica com auxílio computorizado, a nível de artes marciais e cenas de luta, “Curse of the Golden Flower” é consideravelmente inferior aos anteriores filmes de Zhang Yimou, “Hero” (2002), “House of the Flying Daggers” (2004). Mas, num estilo coerente, mantém-se o espectáculo visual. Os cenários são opulentos, as cores saturadas, o guarda-roupa da responsabilidade de Yee Chung Man sumptuoso. Do dourado ao verde esmeralda, do amarelo ao vermelho, a brilhante e psicadélica mistura de cores emanadas das paredes, tectos, tapetes, mobiliário contrasta de uma forma extrema ao negro melodrama que se desenrola no interior do palácio imperial.
Incesto, traição, assassínio, segredos profundos e luta pelo poder é uma receita eficaz, mesmo que pouco original. Nas interpretações destacam-se um sádico e cruel Chow Yun Fat (“Crouching Tiger, Hidden Dragon”), uma sofrida, só e louca Gong Li (“Memórias de uma Geisha”) e um magnético Jay Chou, mais conhecido pela sua vertente musical.
Debaixo da bela e luxuriante aparência exterior, germina o lado mais sórdido da humanidade. Afinal aquele palácio deslumbrante não é mais do que uma gaiola bem decorada. A tragédia surge quando à rígida estrutura social imposta pelo exterior se vem opor a emoção pessoal. É na aniquilação de qualquer vestígio de humanidade individual (imperador e imperatriz nunca são referidos pelo seu nome próprio, mas pelo papel social que desempenham), que se sustentam os sistemas de governo autocráticos. As analogias entre a China de ontem e a de hoje ficam ao cargo, e à responsabilidade, de cada um.
CITAÇÕES:
“Aquilo que eu não te der, nunca o deves tomar pela força.”
CHOW YUN FAT (Imperador Ping)