Match Point ****
Realização: Woody Allen. Elenco: Jonathan Rhys-Meyers, Scarlett Johansson, Emily Mortimer. Nacionalidade: Inglaterra / Luxemburgo, 2005.
É assustador pensar que muitos acontecimentos da vida dependem da sorte, numa fracção de segundo. Ao contrário do que se pensa, não se controla tudo. Como num jogo de ténis, quando a bola toca na rede e todos ficam suspensos à espera que ela caia - nesse instante, pode cair para a frente, e nós ganhamos. Ou não: a bola cai no nosso campo e perdemos. Uma questão de sorte. O jogador desta história leva os espectadores na bancada a seguirem a trajectória. E ficam suspensos, ao longo do jogo de duas horas, do lado da rede em que a bola cai - do certo ou do errado.
Woody Allen serve com mestria, no seu novo filme que estreia hoje, "Match Point", o drama de um jovem professor de ténis, Chris (Jonathan Rhys-Meyers), um leitor de Dostoievski ("Crime e Castigo") e apreciador de ópera, que sobe na sociedade e acaba envolvido num triângulo amoroso de consequências trágicas. Dividido entre a posição social alcançada, pelo casamento com a filha de um empresário, Chloe (Emily Mortimer), e o desejo e obsessão por uma jovem actriz americana (Scarlett Johansson).
Neste "Match Point", Woody Allen é também ele tentado por Scarlett, carnal e carnívora, na interpretação de Nola, e filma-a como já há muito não filmava uma personagem feminina. "Ela é irresistível, tem uma personalidade maravilhosa e é uma tremenda actriz. É difícil de acreditar que é tão nova", admite o realizador nova-iorquino.
A filmar pela primeira vez em Londres, Woody Allen tem aqui um regresso em excelente forma, depois de uma sequência de comédias e filmes mais leves. Aliás, o registo cada vez mais negro (amargo e cínico são outros adjectivos possíveis para esta obra) acaba por surpreender. Mais ainda quando o "match point", o ponto decisivo no jogo de ténis, se decide ao som de "Otelo", de Verdi. "É preferível ter sorte do que ser bom", diz Chris. A nós, saiu-nos a sorte grande com este filme.
por Miguel