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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Qui M'Aime Me Suive ****

12.10.06, Rita

Realização: Benoît Cohen. Elenco: Mathieu Demy, Eleonore Pourriat, Julie Depardieu, Romane Bohringer, Mathias Mlekuz, Fabio Zenoni, Warren Zavatta, Rufus, Thomas Chabrol, Elisabeth Margoni. Nacionalidade: França, 2005.





Max (Mathieu Demy) tem 35 anos e é um médico respeitado, o orgulho dos seus pais e da sua esposa, Anne (Romane Bohringer), advogada, e fiel portador da sua herança burguesa. A guitarra que tocava na sua adolescência é uma memória distante. A vida de Max é confortável e segura e desloca-se a uma velocidade de cruzeiro. Mas o seu sonho não é este. Num bar, Max escuta a música de Chine (Eléonore Pourriat, também co-argumentista do filme) e a sua paixão – a música – reaviva-se. Max decide então abandonar a sua profissão e dedicar-se à sua paixão – a música –, contactando os seus amigos de juventude e convencido de que quem o ama o apoiará no seu projecto. Mas o entusiasmo da sua amiga Praline (Julie Depardieu) parece não ser geral. Com efeito, o furacão que Max inicia com a sua decisão irá arrastar consigo todos aqueles que o rodeiam, mudando as suas vidas para sempre.


Estas personagens debatem-se em intensas contradições, das quais a personagem de Romane Bohringer é o paradigma. Numa interpretação feroz e, simultaneamente, sensível, ela debate-se entre o amor que sente por Max e a sua incapacidade de fazer com que esse amor signifique aceitação.


“Qui M'Aime Me Suive” é uma comédia agri-doce sobre uma geração de trintões desencantados que recalcaram os seus sonhos por uma noção ilusória de êxito, onde os objectivos materiais deixam por preencher uma parte demasiado grande da sua alma. A felicidade é o primeiro argumento de venda e o primeiro vazio da sociedade actual. Mas terá de ser fora das definições publicitárias que cada um terá de a construir, sabendo que o êxito não é ser-se famoso, é lutar pelo que queremos, avançar apesar do medo, ou até exactamente por causa dele.


A mensagem de “Qui M'Aime Me Suive” não é “vamos todos seguir o nosso sonho de infância”. Grande parte de nós não descobre esse caminho tão cedo. A opção de Max não é um combate à rotina ou o capricho de uma crise existencial. É sobre encontrar um sentido para a nossa vida, mesmo que isso implique dar uns passos atrás. Não se trata de fugir às responsabilidades, mas de assumir um novo conjunto delas e todas as consequências da mudança, e todas as mudanças consequentes. Escolher implica sempre deixar de lado um conjunto enorme de alternativas. Não escolher implica exactamente o mesmo. E só há um momento em que é demasiado tarde para mudar: exactamente aquele momento em que tudo muda.


Com frescura, sinceridade e entrega, Benoît Cohen transforma um conjunto de clichés num manifesto sobre a felicidade. Em torno de si, Cohen reúne um elenco com o qual já tinha filmado anteriormente em “Les Acteurs Anonymes” (2001) e “Nos Enfants Chéris” (2003) e o seu trabalho conjunto é reflexo dessa cumplicidade.


As músicas de Léonard Vindry estão feitas à medida desta história. Quando Chine canta “je suis faite pour le bonheur et bien faite” o que ela faz é reivindicar um direito.


Quanto ao título “Qui M'Aime Me Suive”, frase histórica proferida por Philippe VI (1293 - 1350), há duas considerações a fazer: (1) seguir não é ir atrás de, é acompanhar; (2) amar muito não é amar bem (e pode até ser extenuante). E se os mais cépticos insistirem em questionar o apoio incondicional de Praline, a resposta é dada num refrão: “je t’aime et voilá!”.