Le Passager ***
Realização: Eric Caravaca. Elenco: Eric Caravaca, Julie Depardieu, Vincent Rottiers, Maurice Bénichou, Maurice Garrel, Nathalie Richard, Rémi Martin. Nacionalidade: França, 2005.
A estreia na realização do actor Eric Caravaca esta claramente influenciada, quer em termos temáticos quer em termos visuais, pelo trabalho “Son Frère” de Patrice Chéreau, do qual ele próprio foi protagonista.
Depois de fazer o reconhecimento do corpo do seu irmão Richard, Thomas (Eric Caravaca) regressa à sua terra natal para dar seguimento aos preparativos para o enterro. Na sua antiga casa, Thomas descobre uma fotografia do irmão com uma mulher, Jeanne (Julie Depardieu), e decide alojar-se no hotel dela, sem revelar a sua identidade. Jeanne gere o hotel juntamente com o seu tio Joseph (Maurice Bénichou) e o seu afilhado Lucas (Vincent Rottiers). Thomas descobre que Richard partiu sem qualquer explicação e, através deles, tenta aproximar-se da pessoa que ele tinha sido. Thomas não falava com o irmão havia muitos anos, tornando-se óbvio que algo os tinha feito afastarem-se antes do suicídio de Richard.
Thomas deixou em Paris a sua mulher e o seu filho de 18 meses. O seu regresso à família não parece ser possível enquanto este assunto do seu passado não for resolvido. Para isso, talvez Thomas tenha de ir mais fundo do que estaria disposto.
A oportunidade de uma falsa identidade é utilizada por Thomas - de forma consciente - como um meio. Mas o seu desejo inconsciente de apagar-se a si mesmo, ou pelo menos parte de si, torna esta oportunidade muito mais sedutora. E por isso é perturbante ver o seu distanciamento em relação à sua própria família.
O ritmo de “Le Passager” é lento para a história que contém. O argumento poderia ter sido mais ambicioso em termos de narrativa, colocando o final um pouco mais à frente. Apesar de todo esse tempo, e do conjunto de boas interpretações, fica-se apenas à superfície da dor daquelas personagens, que buscam um sentimento de equilíbrio e de pertença.
O passado é muitas vezes uma âncora que nos impede de avançar para outros mares. Se nos fechamos nas suas tragédias, ou nas suas alegrias, corremos o grave risco de anularmos o resto da nossa existência. Há que arrumar a gaveta, deitar fora o lixo, ordenar os papéis que sobram, e fechá-la sem raiva, remorso ou nostalgia.