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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Hustle & Flow ***

15.09.06, Rita

Realização: Craig Brewer. Elenco: Terrence Howard, Anthony Anderson, Taryn Manning, Taraji P. Henson, DJ Qualls, Ludacris, Paula Jai Parker, Elise Neal. Nacionalidade: EUA, 2005.





“Hustle & Flow” passou pelos Oscar®, mas não pelas nossas salas de cinema. “It’s hard out here for a pimp” é o refrão do hino que marca este filme (e da canção que ganhou a estatueta dourada): a história de um chulo de Memphis que sonha sair do gueto através da música.


DJay (Terrence Howard) tem três mulheres a seu cargo: Shug (Taraji P. Henson), grávida de DJay e cumprindo o papel doméstico da esposa, Lexus (Paula Jai Parker) que trabalha como stripper, e Nola (Taryn Manning) encarregue de satisfazer homens no banco de trás dos carros. Juntos, eles compõem um tipo estranho de família. Ao encontrar Key (Anthony Anderson), um amigo de infância actualmente engenheiro de som, recuperam o sonho de gravarem juntos.


Key diz a DJay que existem dois tipos de pessoas no mundo: os que fazem e os que falam. DJay está decidido a fazer. DJay sente que tem muito para dizer, o rap é o meio. E o sonho. De mudar de vida, de lhe dar sentido. Com a ajuda de Shelby (DJ Qualls), um organista branco da igreja local, os dois amigos iniciam uma viagem criativa, que arrasta consigo as pessoas que giram à sua volta. O sonho de DJay é contagioso, e permite que todos ao seu redor acreditem na possibilidade de escaparem do seu mundo.


Vencedor do Prémio do Público na edição de 2005 do Festival de Cinema de Sundance, estava a contar aborrecer-me com mais uma história sobre a ténue linha que separa o crime a milionária indústria discográfica, estava a contar cansar-me da música e dos estereótipos associados aos guetos e à violência, mas nada disso aconteceu. Primeiro, porque tirando uma das cenas finais, “Hustle & Flow” não é nada violento, e segundo porque não transforma este improvável herói num ainda mais improvável êxito comercial.


Fugindo ao melodrama, o estreante realizador Craig Brewer consegue criar uma história envolvente com personagens cheios de falhas mas que preservam a sua humanidade. Existem dois momentos francamente tocantes: um é quando Shug agradece a DJay a oportunidade de a deixar cantar numa faixa, como se ela tivesse a noção de que na vida dela aquele seria o momento mais importante; outro, é a revolta, cheia de frustração, desespero e desilusão, de Nola quando DJay troca os seus serviços por um microfone.


DJay não é uma personagem que, à partida, crie grandes empatias, é autoritário e manipula as pessoas que o rodeiam. Mas é também um homem fiel e que projecta a força da liderança. Os lampejos de gentileza aparecem as vezes suficientes para evitar que nos distanciemos dele. E Terrence Howard (“Crash”), numa boa prestação, impregna-lhe a sensibilidade necessária para o humanizar.


Taryn Manning está excelente como uma prostituta que se sente perdida no mundo, como ela mesma diz “Toda a gente tem alguma coisa para fazer, menos eu”. É Nola que personifica a capacidade das pessoas excederem os seus supostos limites, quando lhes é dada a oportunidade para tal. Elise Neal está igualmente bem como esposa de Key, dividida entre o seu estilo de vida e as novas ambições do marido.


Sem que cheguemos a sentir pena destes indivíduos, ou achar que eles mereciam algo melhor, o filme termina com um tom de desencanto, mas com uma luz de esperança. Lembrando que podemos ser muito mais do que aquilo que somos, se não desistirmos de acreditar em nós próprios e se nos empenharmos nos nossos sonhos.






CITAÇÕES:


“Just because you got the bacon, lettuce, and tomato don't mean I'm gonna give you my toast.”
ANTHONY ANDERSON (Key)

“There are two types of people: those that talk the talk and those that walk the walk. People who walk the walk sometimes talk the talk but most times they don't talk at all, 'cause they walkin'. Now, people who talk the talk, when it comes time for them to walk the walk, you know what they do? They talk people like me into walkin' for them.”
ANTHONY ANDERSON (Key)

“I'm here trying to squeeze a dollar out of a dime, and I ain't even got a cent man.”
TERRENCE HOWARD (DJay)