Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Après Vous... ***

13.09.06, Rita

Realização: Pierre Salvadori. Elenco: Daniel Auteuil, José Garcia, Sandrine Kiberlain, Marilyne Canto, Fabio Zenoni. Nacionalidade: França, 2003.





Antoine (Daniel Auteuil, “Caché”) é o chefe de sala no restaurante de luxo Chez Jean, onde está habituado a resolver todos os problemas, apesar de ter uma considerável dificuldade em estabelecer e respeitar as prioridades da sua vida. É pois, por instinto, que uma noite Antoine evita o suicídio de Louis (José Garcia, “Le Couperet”), contra a vontade deste. Louis coloca em Antoine o peso de provar que a vida merece a pena e Antoine aceita essa responsabilidade, tranformando Louis numa missão. Recebe-o em casa, a contra-gosto da namorada Christine (Marilyne Canto); arranja-lhe emprego de sommelier no Chez Jean, apesar da clara inaptidão de Louis (já para não falar das suas “vertigens invertidas” pelas quais imagina que tudo lhe vai cair em cima); e tenta descobrir Blanche (Sandrine Kiberlain, “Les Gens Normaux N'ont Rien d'Exceptionnel” - 1993), a grande paixão de Louis, que o abandonou. O problema é que Blanche tem um novo namorado e pretende casar-se dentro de pouco tempo. Mas o maior problema de todos é que Antoine, na tentativa de reconciliar Blanche e Louis, acaba por ser traído pelo seu próprio coração.


“Après Vous...” é uma comédia sem grande originalidade, mas cuja eficácia, apoiada no cómico de situação, vence pela presença de dois excepcionais actores nos papéis protagonistas. Auteuil é um homem constantemente preocupado com fazer a coisa certa, abdicando da sua própria felicidade (e ironicamente provocando a infelicidade de outros no processo) em nome das boas intenções. Garcia, ridículo e cativante, é totalmente neurótico e obcecado. Antoine e Louis têm arcos evolutivos opostos. Enquanto o primeiro caminha no sentido da insegurança e da fragilidade, em virtude de um sentimento que o destabiliza, o outro recupera a confiança e a segurança, pela ínfima esperança que alberga no meio de toda a impossibilidade.


Salvadori corre de gag em gag, tentando aproveitar ao máximo os trunfos que tem nas mãos, mas não consegue fugir aos clichés mais básicos das comédias românticas.


“Cherchez la femme” é o mote. Na raiz dos dilemas destes dois homens está uma mulher melancólica e carente. A própria Blanche confessa que é incapaz de estar sozinha. O facto de Antoine estar à mão, e funcionar mais como um substituto do que como um motor emocional, torna este papel feminino bastante irritante (em vez do sentimento de traição quando descobre que os dois homens se conhecem, Blanche deveria antes sentir-se grata de ser a causa de tanta maquinação) e retira força ao elemento amoroso.


Aliás, o amor perde muitos pontos para a amizade neste filme, em especial no contraponto entre os actos egoístas motivados pelo primeiro e a generosidade do segundo. Questão metafísica do dia: haverá algum limbo idílico onde ambos se fundam?



P.S. - Depois da repetição exaustiva do hit francês dos anos 70 “Allô Papa Tango Charlie”, nos ouvidos fica a queimar, deliciosamente, “Sur le bout de la langue” de Camille Barbaz - poema abaixo para degustação.






CITAÇÕES:


“Christine - Como está o pato?
Louis - Morto.”
MARILYNE CANTO (Christine) e JOSÉ GARCIA (Louis)


“Eu não sou uma rapariga fácil, mas sou conciliadora.”
SANDRINE KIBERLAIN (Blanche)

“Blanche - As flores têm significados. As rosas dizem “amo-te”, (...) as anémonas “lamento muito”. Qual era a tua ideia?
Antoine - Rosas. E anémonas. 50, 50.
Blanche - “Amo-te” e “lamento imenso”. É muito masculino!”
SANDRINE KIBERLAIN (Blanche) e DANIEL AUTEUIL (Antoine)



SUR LE BOUT DE LA LANGUE
de Camille Barbaz


J'ai, sur le bout de la langue
Un mot qui me brûle
Un mot qui m'embrouille
La tête, m'arrache les os
Me griffe le cerveau
M'abime de bas en haut

J'ai sur le bout de la langue, ton petit coeur qui tangue
Sur le bout de la langue, ton petit coeur qui tangue,
Ton petit coeur qui tangue, ton petit coeur qui tangue...

Il y a sous ta peau
Comme un frisson qui me touche
Un éclair sur ta bouche
Couche moi près de toi
Non je ne bougerai pas
Même si tu ne m'écoute pas

J'ai sur le bout de la langue, ton petit coeur qui tangue
Sur le bout de la langue, ton petit coeur qui tangue,
Ton petit coeur qui tangue, ton petit coeur qui tangue...

Ne me montre pas du doigt
Si je veux tes mains d'abord
Si je te demande encore
De me raconter l'histoire
Des gens qui s'aiment une nuit
Des gens qui s'aiment une vie...

J'ai sur le bout de la langue, ton petit coeur qui tangue
Sur le bout de la langue, ton petit coeur qui tangue,
Ton petit coeur qui tangue, ton petit coeur qui tangue...