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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Three Burials of Melquiades Estrada ****

17.08.06, Rita

Realização: Tommy Lee Jones. Elenco: Tommy Lee Jones, Barry Pepper, Julio Cesar Cedillo, Dwight Yoakam, January Jones, Melissa Leo. Nacionalidade: EUA / França, 2005.





Melquiades Estrada (Julio Cesar Cedillo) é um emigrante ilegal que veio do México para trabalhar nos ranchos do Texas. Melquiades aparece morto no meio do deserto, é esse o seu primeiro enterro. O rancheiro Pete Perkins (Jones) é o seu melhor amigo, e não fica descansado com o pouco interesse da polícia americana em desvendar o caso. Quanto Pete descobre que Melquiades foi sepultado numa campa rasa cuja cruz se reduz a um impessoal “Melquiades Mexico”, decide fazer justiça pelas próprias mãos. Além disso, tem uma promessa a cumprir: entregar o corpo de Melquiades à sua mulher, num pequeno lugar no México (o terceiro enterro). Mas Pete não vai sozinho: rapta o assassino de Melquiades, obriga-o a desenterrar Melquiades e os três iniciam uma viagem de vingança, castigo (por vezes violento, por vezes grotesco) e redenção.


“The Three Burials of Melquiades Estrada”, a primeira longa-metragem de Tommy Lee Jones (com Luc Besson como produtor executivo), premiada no ano passado em Cannes com os prémios de Melhor Argumento e Melhor Actor Principal, é um conto sobre a amizade, a honra, o dever, a confiança e a justiça. O argumento do mexicano Guillermo Arriaga (“21 Grams”, “Amores Perros”) apresenta ainda um ténue pano de fundo onde se aflora o racismo, as desigualdades e se questionam as políticas fronteiriças americanas.


Filmado com uma série de saltos temporais que nunca são denunciados por qualquer indicação visual, cabe ao espectador fazer o caminho entre o passado e o futuro de personagens tão diversas como um polícia fronteiriço demasiado empenhado (um atormentado Barry Pepper), a sua mulher, aborrecida longe dos seus centros-comerciais (uma subtil January Jones), e um homem cheio de raiva e tristeza (Tommy Lee Jones de uma autenticidade desarmante). Uma chamada de atenção ainda ao breve mas enorme cameo de Levon Helm no papel de cego (66 anos, membro da banda rock dos 70 ‘The Band’).


O ponto fraco de “The Three Burials of Melquiades Estrada” reside na falta de substanciação da devoção de Pete a Melquiades, que poderia legitimar com maior credibilidade as suas atitudes mais extremas. Em vez disso, temos um homem movido por uma noção transcendente de dignidade e devoção e obcecado por uma missão.


“The Three Burials of Melquiades Estrada” fala de uma culpa independente da responsabilidade e de um perdão só possível através do sofrimento (mesmo que sejam precisas coincidências um pouco rebuscadas para reequilibrar a balança das dívidas, como o caso do encontro com a curandeira mexicana).


Através de paisagens duras e belas, entre as margens do Rio Grande e o deserto, uma tortuosa viagem conduzirá um homem de volta à sua humanidade e outro à sua tranquilidade. Em todos os momentos nos questionamos onde acabará esta senda. Jones e Arriaga mantêm-nos na expectativa até ao final, com uma resolução tão surpreendente quanto satisfatória.