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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Passenger (Professione: Reporter) ****

24.07.06, Rita

Realização: Michelangelo Antonioni. Elenco: Jack Nicholson, Maria Schneider, Jenny Runacre, Ian Hendry, Steven Berkoff, Ambroise Bia, Chuck Mulvehill. Nacionalidade: França / Itália / EUA / Espanha, 1975.





David Locke (Nicholson) é um repórter inglês que está a cobrir um conflito num país africano (que nunca é identificado). As condições físicas do seu trabalho levam-no ao limite, já quase esgotado pelas suas circunstâncias pessoais. Por isso, quando o seu vizinho de quarto de hotel Robertson (Mulvehill) morre subitamente, Locke, quase sem hesitar, decide trocar de identidade para se libertar. Entretanto, em Londres, Rachel (Runacre), a mulher de Locke, intrigada pela sua morte, envia o editor televisivo Martin Knight (Hendry) em busca de um tal de Robertson, que foi quem esteve com seu marido pela última vez.


Claro que Robertson tinha uma vida. Locke decide seguir os compromissos da agenda de Robertson, mas acaba por descobrir o seu envolvimento no tráfico de armas e no apoio à revolução no mesmo país onde se encontrava a fazer a sua reportagem. Em Barcelona, Locke conhece uma rapariga (Schneider) que o acompanha na sua fuga - que é, ao mesmo tempo, a sua procura.


Ela representa de certa forma a possibilidade de algo novo, um impulso que tenta roubá-lo à sua passividade. Mas dada a interpretação de Schneider ser tão surpreendentemente letárgica, enfadonha e pouco convincente (além de fracamente construída nas suas motivações), não é difícil a Locke resistir aos seus argumentos.


O título em italiano “Professione: Reporter” coloca o foco em Locke, enquanto o título em inglês o move para a rapariga, ou talvez seja o mesmo Locke como “passageiro” da vida de Robertson. “The Passenger” é um filme profundamente existencialista, onde a profunda cisão entre o interior e o exterior é evidenciada na cena final, onde Antonioni observa a praça através das grades do quarto de hotel onde Locke descansa da sua viagem.


Com planos audaciosos e um ritmo que capta na perfeição a alienação inerente à condição humana, Antonioni enche esta viagem de descoberta de paisagens esmagadoras de uma Espanha asfixiante. A desolação é o elemento que faz o círculo entre o início (deserto) e o final do filme. É aí que as oportunidades de abrem, e que se fecham.


Num local onde ninguém nos conhece e onde não conhecemos ninguém somos obrigados a confrontar-nos com a nossa própria insignificância. Esse descer à essência pode fazer-nos perceber o que realmente nos motiva, mas pode igualmente evidenciar a ausência de rumo. Mesmo não sendo necessário conhecer o destino, é preciso dar o passo seguinte. Só assim se caminha. E não é o lugar que nos define, não são sequer as pessoas de quem nos rodeamos, nem mesmo um documento de identificação. O que nos define é aquilo que queremos construir, dentro e fora de nós.


E sim, as pessoas desaparecem todos os dias. Basta saírem da sala.






CITAÇÕES:


“MARIA SCHNEIDER (The Girl) - Who are you?
JACK NICHOLSON (David Locke) - I used to be someone else but I traded him in.”

“MARIA SCHNEIDER (The Girl) - People disappear every day.
JACK NICHOLSON (David Locke) - Every time they leave the room.”






















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