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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Da Vinci Code ***

03.06.06, Rita

Realização: Ron Howard. Elenco: Tom Hanks, Audrey Tautou, Ian McKellen, Jean Reno, Paul Bettany, Alfred Molina, Jürgen Prochnow, Jean-Yves Berteloot, Etienne Chicot, Jean-Pierre Marielle, Marie-Françoise Audollent. Nacionalidade: EUA, 2006.





Hoje em dia, o que é verdadeiramente polémico é dizer bem de qualquer coisa que tenha a ver com O Código Da Vinci. Eu adiei ler o livro de Dan Brown porque detesto modas. Quando me chegou às mãos um exemplar em inglês, justifiquei-me com a utilidade de praticar o idioma para acabar por fazer o mesmo que o resto da população. É um livro que se lê bem (no metro), sem quaisquer laivos e genialidade e sem verdadeiras aspirações a tal. A baixa qualidade literária é compensada pela boa técnica. O esquema novelístico de capítulos pequenos e punch final a impelirem para mais uma página monopoliza completamente o nosso livre arbítrio como leitores. Eu não me senti impelida pela história, mas simplesmente pela forma. O que me revoltou.


Quanto ao conteúdo, não me surpreendeu. O enredo é pouco consistente e pouco credível. E, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, não é nada inovador nas suas propostas pseudo-destabilizadoras. Basta ter lido O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de Saramago, para perceber que há muito pouco já para se inventar. Mas Saramago, ao contrário de Dan Brown não escreve para todos, e a máquina promocional sabe disso perfeitamente.


Acho lógico Dan Brown ter visto interesse no Evangelho Segundo Maria Madalena (mencionado igualmente no filme de Abel Ferrara), e nos mitos que rodeiam as sociedades secretas e a Opus Dei nomeadamente. Bem, e quanto à Igreja Católica, essa sempre se pôs a jeito para ser criticada. O que me preocupa é ver mentes jovens a acreditarem em tudo aquilo que lhes chega já mastigado e cuspido. E esse é o perigo de misturar factos e ficção. Não querendo generalizar a falta de discernimento de quem lê Dan Brown ou de que vê o filme de Ron Howard, fiquei inquieta com as explicações ridículas que uma jovem dava ao seu amigo no intervalo do filme. Ele não tinha lido o livro e não estava a perceber nada (também tenho receio em generalizar esta conclusão), e ela falava de Templários, Opus Dei, Priorado do Sião, como se fossem os mais recentes actores de Morangos Com Açúcar.


Gosto da ideia de haver livros que levantam véus, que nos fazem questionar e querer descobrir mais (a quantidade de livros que li para ler O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco!!! - por falar em Templários). A questão aqui é que quem lê O Código Da Vinci, vai procurar esclarecer factos nos restantes livros (ficcionais) de Dan Brown (que pode finalmente desfazer-se dos stocks acumulados dos seus anteriores livros) ou na praga de edições feitas às costas do Código.


Agora que desabafei, vamos ao filme. A história é a do livro, por isso, para quem leu não vale a pena contar, e para quem não leu, vale mais ler que ver o filme. Um crime no Museu do Louvre leva o simbologista Robert Langdon (Tom Hanks) e a criptologista Sophie Neveu (Audrey Tautou) pelos meandros de conspirações de vários grupos de interesses ao redor da verdadeira identidade do Santo Graal (a este respeito, a lenda do Rei Arthur continua sem concorrência).


Deve ter sido muito complicado para Howard concentrar o livro no formato cinema, dada a quantidade de peripécias que acontecem a Langdon e Neveu. O que torna mais fácil detectar os buracos de todas as felizes coincidências deste heróis. O livro é tão visual que a interpretação de Howard não se reveste de grande originalidade. Mas a fidelidade não pode ser questionada, e nisso, Howard cumpre. Além disso, a sua equipa técnica é tão boa que é impossível anular as qualidades desta obra: da fotografia de Salvatore Totino, passando pelo design de produção de Allan Cameron, até à montagem de Daniel P. Hanley e Mike Hill (que certamente tiveram o maior desafio de todos).


Há quem se queixe da falta de química entre Hanks e Tautou, mas... essa química no livro é inexistente (e bastante forçada para a parte final). Não acho de todo que isso faça falta à história, antes pelo contrário. A nível de interpretações, quero destacar o sempre forte Ian McKellen, como Sir Leigh Teabing, o belíssimo Paul Bettany como Silas e o carismático Jean-Yves Berteloot como Remy, o empregado de Teabing.


E depois, gostei de passear por Paris, pelo Louvre, por uma falsa Abadia de Westminster, e dos planos aéreos: soberbos! Quem quiser ir ver, vá. Não ganha demasiado com isso, mas também não perde. Mas reforço o aviso: pensar por nós próprios continua a ser a melhor forma de encontrar alguma verdade, por pequena que seja.






CITAÇÕES:


“Why is it divine or human? Can't human be divine?”
TOM HANKS (Robert Langdon)