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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The New World *****

18.05.06, Rita

Realização: Terrence Malick. Elenco: Colin Farrell, Q'Orianka Kilcher, Christian Bale, Christopher Plummer, August Schellenberg, Wes Studi, David Thewlis, Yorick van Wageningen. Nacionalidade: EUA, 2005.





1607. Três navios ingleses chegam às costas da Virginia. Liderados pelo Capitão Newport (Christopher Plummer), um grupo de colonizadores prepara-se para se estabelecer no Novo Mundo, e fundar a cidade de Jamestown. Com eles está o Capitão John Smith (um doce e sujo Colin Farrell), libertado das acusações que o traziam preso no convés do barco, que é enviado à aldeia dos nativos para trocas comerciais. Capturado pelos índios e arrastado para a casa de Powhatan (August Schellenberg), o chefe da tribo, John Smith é salvo de uma nova morte por Pocahontas (Q'Orianka Kilcher), a filha preferida do chefe. Pocahontas é uma adolescente movida pela curiosidade, que se apaixona por John Smith como se ele fosse uma representação do divino. Por sua vez, John Smith, um explorador romântico, sonhador e idealista, apaixona-se pela ideia que ela representa: a esperança de uma nova vida, uma liberdade selvagem, e a possibilidade utópica de construir uma sociedade iluminada, baseada na justiça, na igualdade e na prosperidade.


Eu não conhecia a história da Pocahontas (suponho que facilita o facto de não me dar com crianças) e acho que isso acabou por ser uma vantagem neste caso. Aliás, o facto de o seu nome nunca ser referido ao longo do filme, insinua que Malick também se quis afastar das versões existentes.


Filmar com bom gosto um romance entre um homem de 27 anos e uma rapariga de 11 (neste caso Farrell tem 30 e Kilcher 15), por muito fictício que seja, requer algum talento. E aqui ‘TALENTO’ é mesmo a palavra-chave, a todos os níveis.


A relação de descoberta mútua de John Smith e Pocahontas é filmada como se de um sonho se tratasse, como um encontro de espíritos, sensual e apaixonado. Malick mostra o espanto da descoberta como se o experimentasse ele mesmo, e o primeiro encontro de ambos tem mais encantamento e receio do que qualquer filme sobre invasões de extraterrestres.


Com o crescimento da colónia surge o fiável, gentil e moderado John Rolfe (Christian Bale). Como contraponto a Smith, ele constrói com Pocahontas uma relação totalmente nova, mais madura. Enquanto Smith queria conquistar e ser conquistado, Rolfe ama a pessoa que Pocahontas é. A tragédia de Smith é só tarde de mais se dar conta disso. Um e outro simbolizam a oposição entre sonho e realidade.


Na parcialidade do “nobre selvagem”, que parece desconhecer a violência antes da chegada do branco, Pocahontas representa uma ponte entre as duas culturas, mas que ainda assim acaba por ter o sabor amargo da cedência ao mundo branco. Quando se entra na corte do Rei James I (um cameo de Jonathan Pryce), encontra-se um mundo geométrico e simétrico, onde a natureza é confinada entre linhas rectas, como Pocahontas dentro de um corpete.


Malick traduz os pensamentos das personagens em voice over, hipnotizando-nos como ondas que, aliados à fotografia dolorosamente bela de Emmanuel Lubezki, à sublime banda sonora de James Horner, e a uma montagem quase lírica nos transportam através de uma deliciosa poesia épica.


O empenho de Malick neste projecto vai mais além do tecnicamente soberbo, é uma obra emocional (o seu quarto filme em 32 anos). Com a sua singular visão, Malick usa som e imagem para criar um universo sensorial. Mais do que recriar ele tenta experimentar, e através de personagens de dimensões humanas ele cria uma série de perspectivas pessoais onde se mistura a verosimilhança e o espectáculo de gloriosas e inebriantes paisagens. Numa abordagem filosófica, Malick faz uma observação atenta de como os seres humanos lidam com o amor, a morte, a guerra e a natureza.


Ao seu serviço estão os magnéticos Colin Farrell e Christian Bale, fabulosos numa expressividade quase mímica. Christopher Plummer saiu claramente prejudicado da sala de montagem mas as faladas 3 horas de DVD prometem compensá-lo. Quanto à quase estreante Q'Orianka Kilcher (prima da cantora Jewel) só há elogios a fazer (tirando a audácia de ter nascido em 1990 numa combinação letal de pai peruano e mãe suiça). A beleza pouco convencional e o ar grave dão à sua Pocahontas a medida certa de deslumbramento e sabedoria. No seu rosto espelham-se todas as emoções e a câmara não tem outra alternativa senão segui-la. Malick dá-se ainda ao luxo de ter grandes actores em pequeno papéis, como é o caso de Noah Taylor, John Savage, David Thewlis e Ben Chaplin.


No fim deste impressionante drama sobre os primeiros passos de uma nação, sentimo-nos subjugados pela sua dimensão, cogitando sobre aquilo que foi ganho e perdido num suposto processo de civilização.






CITAÇÕES:


“They are gentle, loving, faithful, lacking in all trickery; they have no jealousy, no sense of possession. They know no slander, envy, or forgiveness.”
COLIN FARRELL (John Smith)

“Love...shall we deny it when it visits us...shall we not take what we are given.”
COLIN FARRELL (John Smith)

“There is only this. All else is unreal.”
COLIN FARRELL (John Smith)

“Tell her what? It was just a dream. I am now awake.”
COLIN FARRELL (John Smith)

“I let her love me. I made her love me.”
COLIN FARRELL (John Smith)

“You run through me, like a river.”
Q’ORIANKA KILCHER (Pocahontas)

“Come away.”
Q’ORIANKA KILCHER (Pocahontas)

“Conscience is a nuisance. A fly. A barking dog.”
YORICK VAN WAGENINGEN (Argall)

“She weaves all things together.”
CHRISTIAN BALE (John Rolfe)

“Sweet wife, love made the bond, love can break it too.”
CHRISTIAN BALE (John Rolfe)

“Pocahontas - Did you find your Indies, John?
John Smith - I may have sailed passed them.”
Q’ORIANKA KILCHER (Pocahontas) e COLIN FARRELL (John Smith)

































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