Drawing Restraint 9 ***
Realização: Matthew Barney. Elenco: Matthew Barney, Björk, Mayumi Miyata, Shiro Nomura, Tomoyuki Ogawa, Sosui Oshima. Nacionalidade: EUA / Japão, 2005.
“Drawing Restraint 9” não é um filme, e antes que se criem expectativas de tal, é melhor deixá-lo claro desde início. “Drawing Restraint 9” é um objecto de arte, que usa o cinema como veículo, tirando partido da imagem e do som. Só assim se pode entender a ausência de enredo, de ritmo e de personagens.
E, no entanto, é um objecto imensamente belo.
“Drawing Restraint 9” começa com uma mulher embrulhando um fóssil, numa dança coreografada de mãos e papéis. O embrulhos são selados com um símbolo oval atravessado por uma barra (a plenitude restringida por uma barreira). Acompanhamos depois dois visitantes ocidentais (Barney e Björk) que, separadamente, são levados para bordo do baleeiro japonês Nisshin Maru. Os visitantes são lavados e vestidos com fatos feitos de peles de animais na preparação de uma cerimónia de casamento. No convés do navio, a tripulação ocupa-se com o molde de uma piscina de vaselina - um molde onde se repete novamente o símbolo oval - em sinal de todo o esforço que está implícito no trabalho criativo.
Após a cerimónia do chá (onde se proferem as únicas frases de diálogo), um ritual de partilha feito de utensílios surpreendentemente orgânicos, ocorre uma tempestade que provoca o vazar da vaselina. O líquido viscoso entra nas cabines inferiores, inundando-as. Os visitantes juntam-se num ritual de amor-morte, onde a mutilação simboliza a mutação provocada pelo amor, a transformação permitida pela libertação das barreiras exteriores para que as emoções se unam. Enquanto isso, Björk canta “from the moment of commitment, nature conspires to help you”.
Ao longo de mais de duas lentas horas, o realizador do ciclo “Cremaster” (na sua primeira colaboração com a sua companheira Björk, também responsável pela banda sonora) cria, com imagens de tirar a respiração, um ambiente de opressão onde apenas se consegue respirar quando as barreiras que sustêm a forma são derrubadas, e a forma libertada assume a sua verdadeira essência emocional.
“Drawing Restraint 9” é uma experiência sobretudo sensorial, de um forte poder imagético, usando a baía de Nagasaki como pano de fundo. Um produto de difícil digestão, profundamente trabalhado, com algumas poderosas - mas surreais - ideias. Mas, como cinema, é bem mais interessante de olhar do que de ver.