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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Ice Harvest ***

19.04.06, Rita

Realização: Harold Ramis. Elenco: John Cusack, Billy Bob Thornton, Connie Nielsen, Oliver Platt, Randy Quaid, Lara Phillips, Bill Noble, Brad Smith, Ned Bellamy, Mike Starr. Nacionalidade: EUA, 2005.




Na linha revivalista de “Kiss Kiss, Bang Bang”, “The Ice Harvest” junta todos os ingredientes do film noir: violência, dinheiro, sexo e traição.


Wichita Falls, Kansas. Véspera de Natal. Charlie Arglist (John Cusack) é advogado do patrão da máfia Bill Guerrard (Randy Quaid - excelente nos seus breves minutos). Juntamente com o seu colega Vic Cavanaugh (Billy Bob Thornton) roubam 2 milhões de dólares a Guerrard. O golpe corre bem, mas a fuga é adiada até ao dia seguinte para que as estradas bloqueadas pela tempestade de gelo.


À medida que a noite avança, Charlie vai de clube em clube, bebendo e tentando perceber em quem poderá confiar no meio de um labirinto de enganos. No seu caminho surge Pete (Oliver Platt), um grande amigo de Charlie, que decidiu embebedar-se nessa noite e esquecer-se da vida que leva ao lado da ex-mulher de Charlie, com quem casou.


E porque um film noir tem de ter a sua femme fatal, existe Renata (Connie Nielsen), a dona de um bar de strip tease por quem Charlie tem um encantamento especial, e demasiado parecida com a estrela dos anos 40 Veronica Lake para que não se perceba nela uma considerável dose de perigo.


Harold Ramis, realizador de “Groundhog Day - O Feitiço do Tempo” (1993), situa este filme algures entre “Blood Simple” e “Fargo” dos irmãos Coen, com o absurdo a camuflar uma crise existencialista, onde abunda o niilismo e a resignação.


A interpretação de Cusack, apesar de forte, dá o espaço devido à contracena, especialmente ao sempre refrescante cinismo de Billy Bob Thornton. Cusack dá a Charlie a dose certa de pessimismo, melancolia, desespero e preocupação pelos outros. Charlie sabe que é uma má pessoa e não inventa desculpas para isso, e é impossível não ficar do seu lado. À semelhança do papel de Bill Murray em “Goundhog Day”, Charlie está preso a uma situação porque vive uma vida sem sentido, ainda que neste caso seja algo consciente.


Visualmente, o filme vai do branco imaculado ao néon azuis, do ambiente soturno dos bares ao minimalismo de uma casa. Dispensava-se o humor mais ofensivo, e tanta insistência em mostrar as meninas do strip a dançar. Mas, no global, a ausência de uma mensagem moralista em “The Ice Harvest” é a pedra de toque que deixa aquele pequeno incómodo no estômago. Como diz Charlie, tudo aquilo que fazemos é indiferente; bem ou mal, o resultado raramente é afectado pelo nosso comportamento.


É uma visão, no mínimo, desmoralizadora, mas não deixa de ser interessante pensar nisso.





CITAÇÕES:


“It's against my religion to give out personal advice, but you should either sober up or get real drunk.”
CONNIE NIELSEN (Renata)

“It is futile to regret. You do one thing, you do another… So what?”
JOHN CUSACK (Charlie)

“He actually threatened to shoot Gladys if I didn't tell him where the money was. But I think he was counting on a level of commitment and affection between her and me that just simply wasn't there.”
BILLY BOB THORNTON (Vic)

“Pay no attention to the man in the trunk.”
BILLY BOB THORNTON (Vic)

“You're dead, Roy. Stop pretending that you're not.”
BILLY BOB THORNTON (Vic)

“- You’re the nicest guy I know.
- I’m sorry to hear that.”