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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Secret Window ***

12.08.04, Rita

Realização: David Koepp. Elenco: Johnny Depp, John Turturro, Maria Bello, Timothy Hutton, Charles S. Dutton. Nacionalidade: USA, 2004.





Partindo do princípio que é impossível superar a adaptação que Kubrick fez de um livro de Stephen King (The Shining), podemos dar uma oportunidade a este A Janela Secreta (do livro Secret Window, Secret Garden). A história de um escritor, Mort Rainey (Johnny Depp) a braços com o final do seu casamento e uma profunda crise criativa, que se vê acusado de plágio e acossado pelo autor, John Shooter (John Turturro), disposto a defender a originalidade da sua obra até às últimas consequências. Da mesma forma que recusa entregar os pontos na discussão quanto à legitimidade da sua obra, Rainey escapa-se também à assinatura dos papéis do divórcio, mesmo tendo apanhado a mulher (Maria Bello) em flagrante com o seu novo namorado (Timothy Hutton).


Johnny Depp é, neste momento, o maior camaleão do cinema. Apesar de alguma inconsistência na qualidade dos projectos em que se involve, é inegável que, em todos eles, ele é o melhor actor que se poderia ter, transparecendo o enorme divertimento que ele retira de cada uma das suas interpretações. Mort Rainey não foge à regra, e permite-lhe transfigurar-se entre humor e drama.


John Turturro, em fugazes aparições, enche o ecrã, e o terror do seu silêncio é equiparável ao esgar psicótico de um Jack Nicholson.


Há detalhes de realização que quero destacar, como o pormenor dos nomes dos produtos que Rainey coloca na caixa do supermercado na parte final da história, e da imagem, claramente inspirada no quadro A Reprodução Interdita (1937) de René Magritte, onde, olhando-se no espelho, Rainey vê o reflexo das suas próprias costas. Mas apesar das referências estudadas, do suspense conseguido pela música de Philip Glass e de dois grandes actores, o desenrolar da história torna-se previsível.


A personagem de Depp diz que a parte mais importante de uma história é o final. Mas isso não serve de desculpa para que Koepp nos ofereça esse final antes de tempo. Esse é o grande pecado deste filme. A preocupação com a coerência é talvez a razão para que as pistas se tornem demasiado evidentes. Ou talvez as reviravoltas se tenham tornado tão habituais que ninguém já espera um final tradicional. Ainda virá o dia em que nos surpreenderemos com um “e viveram felizes para sempre...”.






CITAÇÕES:


“The only thing that matters is the ending. It's the most important part of the story. And this one, is very good. This one is perfect.”
JOHNNY DEPP (Mort Rainey)