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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Japanese Story ****

16.08.04, Rita

Realização: Sue Brooks. Elenco: Toni Collette, Gotaro Tsunashima, Matthew Dyktynski. Nacionalidade: Austrália, 2003.





Se o amor fosse uma coisa linear e simples, já há muito que nos tínhamos deixado de preocupar com ele. Bastar-nos-ia deixá-lo acontecer a seu tempo, na certeza de que viria para ficar e que nada nem ninguém poderia modificá-lo ou enfraquecê-lo.


Mas e se o amor não se explica, nem por palavras, nem por silêncios, nem por acções, nem por inércias, nem por pontos em comum, nem por culturas opostas?


Neste filme, Sue Brooks leva-nos por uma viagem pelo deserto australiano, pleno das imagens mais marcantes, quer pela sua riqueza, quer pela sua austeridade. Um deserto apenas ocupado por duas pessoas. Talvez como todos os nossos desertos. Duas pessoas que não se compreendem e que recusam até ao extremo encontrar uma plataforma de entendimento que sempre existiu e existe entre os seres humanos: as suas emoções.


Sandy (Toni Collette) e Hiromitsu (Gotaro Tsunashima) são os protagonistas. Ela é reconhecida imediatamente por filmes como O Sexto Sentido ou As Horas, uma actriz com uma maturidade e um talento inegáveis. Ele veio da série televisiva australiana Changi, passada numa prisão em Singapura, para o seu primeiro filme, e começa desde já a lançar o conceito de um sex-symbol fora dos trâmites habituais e emocionalmente complexo. Ela é uma geóloga com a missão de vender um programa de computador ao herdeiro de um império mineiro. Ele é um homem à procura da sua missão e que aproveita a disponibilidade de uma geóloga com ânsia de vender para ter companhia (e motorista) no seu passeio pelo interior da Austrália.


As diferenças culturais e linguísticas servem de desculpa para os atritos e de escape para a atracção que é inevitável. Alguns dos momentos mais divertidos do filme são as conversas telefónicas de Hiromitsu com um amigo seu, em japonês, onde tem oportunidade de insultar Sandy sem que ela se dê conta.


Toni Collette consegue uma vez mais cativar-nos sem remédio, numa doçura e numa força que se realçam pelo seu contraste. Gotaro Tsunashima brinda-nos com uma interpretação serena mas poderosa. Nem uma nem outro serão talvez considerados os arquétipos da beleza dos sexos, mas este filme oferece-nos, sem sombra de dúvida, algumas das imagens mais sensuais dos últimos tempos.


E, no meio de todas as improbabilidades, fica-nos a certeza de que a felicidade e o amor não perdem o seu valor por não serem eternos.