Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

La Mala Educación *****

18.08.04, Rita

Argumento e Realização: Pedro Almodóvar. Elenco: Gael García Bernal, Fele Martinez, Daniel Giménez Cacho, Lluís Homar, Javier Cámara. Nacionalidade: Espanha, 2004.





Persiste a dúvida se este é ou não um filme auto-biográfico, mas a verdade é que esse pormenor é irrelevante se nos concentrarmos no talento de Almodóvar como contador de histórias. E esta é uma boa e bem contada história.


Ignacio conheceu Enrique num colégio de padres. Juntos descobriram o seu fascínio pelo cinema, o sexo e o amor. Anos mais tarde, Ignacio (García Bernal), que optou pela representação, procura trabalho junto de Enrique (Fele Martinez), agora realizador. Enrique tenta livrar-se dele, mas Ignacio aproveita para lhe deixar uma história, A Visita, aquele que pode ser o novo argumento que Enrique procura. Uma história que mistura o regresso à sua infância comum com a ficção de Zahara (García Bernal), Paquito (Javier Cámara incomparável) e da sua vingança. Ao lê-la e realizá-la, Enrique é levado ao passado, em que foi separado do seu amigo e primeiro amor pelo Padre Manolo (Giménez Cacho), também ele apaixonado por Ignacio.


Este é talvez o argumento mais complicado de Almodóvar e é surpreendente como chegamos ao fim sem confusões sobre as diversas realidades e ficções que existem dentro do filme. Esta eficácia e consistência só são possíveis com uma grande dose de talento e de qualidade cinematográfica. Mas, pela diferença, é um grande desafio colocado sobretudo aos seus admiradores, os fiéis do início e os convertidos com Tudo Sobre A Minha Mãe e Fala Com Ela.


Depois de Amor Cão, E a Tua Mãe Também e O Crime do Padre Amaro, García Bernal dá-nos mais uma personagem para recordar. É ao mesmo tempo um actor à procura de trabalho e o personagem pelo qual luta. Consegue ir do jovem calculista e ambicioso, à doçura mais que feminina de Zahara. Fica-nos a vontade de o descobrir proximamente como Che Guevara.


A pedofilia é o tema polémico do filme, especialmente pela sua associação a elementos do clero, mas a facilidade é evitada através de uma abordagem que, não deixando de ser condenatória, nos faz o retrato de um homem que ama, sofre e abusa do seu poder para concretizar esse amor.


A abordagem feita à homossexualidade e transsexualidade é, no entanto, limitativa. Há que entender que se trata apenas de uma versão, mas fica-se com a sensação de que o abuso é a justificação de algo que, grande parte das vezes é inato e está para além da escolha de cada um.


Esta é uma história com vários culpados, vários pecados e vários abusos: de poder, de confiança, de amor.