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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Coffee and Cigarettes ****

19.08.04, Rita

Realização: Jim Jarmusch. Elenco: Roberto Benigni, Steven Wright, Joie Lee, Cinqué Lee, Steve Buscemi, Iggy Pop, Tom Waits, Joseph Rigano, Vinny Vella, Renée French, E.J.Rodriguez, Alex Descas, Isaach De Bankolé, Cate Blanchet, Jack White, Meg White, Alfred Molina, Steve Coogan, GZA, RZA, Bill Murray, William Rice, Taylor Mead. Nacionalidade: EUA, 2003.





Tudo começou em 1986, com “Strange to Meet You”, em que Steven Wright partilha com Roberto Benigni o seu gosto em beber café à noite para sonhar mais rápido.


Este é o início de uma série de sequências, ligadas entre si pelos elementos comuns dos cigarros e do café (num dos casos, chá). A escolha de filmar a preto (café) e branco (cigarros) não é arbitrária e permite conferir um fio condutor entre os diferentes episódios. Neste filme são retratados diversos momentos de um quotidiano mais ou menos normal, onde as pessoas se encontram propositadamente ou por caso e aproveitam a mesa de um café para partilharem ideias, opiniões e um sem número de divagações.


Jarmush permite deleitarmo-nos com um leque de actores/músicos pleno de referências. Os gémeos Cinqué e Joie Lee no meio dos seus desacordos interrompidos pela surreal teoria do empregado Steve Buscemi sobre o irmão gémeo de Elvis (1989). Iggy Pop e Tom Waits, os mais sarcásticos e também os mais divertidos, falando sobre música e sobre deixar de fumar (1992). Joe Rignano e Vinny Vella discutindo sobre os malefícios do tabaco (1992). O ar ameaçador da doce Renée French enquanto folheia um catálogo de armas. Isaach de Bankolé, protagonista do filme “A Casa de Lava”, de Pedro Costa, e Alex Descas no encontro mais incómodo de amizade sem comunicação. Cate Blanchet, num duplo papel brincando com a sua fama. Meg e Jack White, os dois membros da banda rock The White Stripes que nos trazem o pior momento deste filme, com uma representação/improvisação que, a quem não conheça outros seus talentos, deixa com pouca vontade de os descobrir. Alfred Molina e Steve Coogan numa improvável e hilariante parceria familiar. RZA e GZA, membros do grupo Rap e Hip Hop Wu-Tan Clan num delírio com Bill Murray. E William Rice e Taylor Mead, no último segmento, celebrando a vida com café como se fosse champagne (todos estes em 2003).


Há ideias recorrentes em algumas das situações. Um pouco como as conversas de todos nós que, se fossem filmadas, nos mostrariam todas as parecenças que normalmente nos recusamos a ver. E não são conversas edificantes, esclarecimentos filosóficos ou a resolução dos problemas do mundo, é apenas a troca de palavras, de atenção e de tempo. Esse pequenos momentos de que se compõe a vida.


E apesar de café e cigarros não constituírem um almoço muito saudável, são de facto uma grande combinação, tal como Jarmusch e o cinema.