Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Levity ****

30.08.04, Rita

Realização: Ed Solomon. Elenco: Billy Bob Thornton, Morgan Freeman, Holly Hunter, Kirsten Dunst. Nacionalidade: EUA / França, 2003.






Onde exactamente é que encontramos redenção para os nossos pecados? A dívida que temos com a sociedade é paga numa pena de prisão. A dívida com as pessoas que ferimos é paga num pedido de desculpas. Mas a verdadeira redenção, a verdadeira paz, só a atingimos quando conseguirmos perdoar-nos a nós mesmos. Quando conseguimos provar que podemos construir em vez de destruir, dar a mão em vez de bater, ajudar em vez de criticar, amar em vez de odiar. E para isso temos que querer aprender a ser pessoas melhores, e trabalhar arduamente nesse sentido.


Manual Jordan (Billy Bob Thornton) aprendeu. Depois de 23 anos na prisão a olhar o recorte de jornal com a fotografia do jovem Abner Easley que ele matou quando roubava uma loja de conveniência. Uma morte que ele não consegue justificar, nem esquecer, nem perdoar. Tanto assim é que acredita que o seu lugar é exactamente fora da sociedade que ele traiu e é com incredulidade e medo que acata a liberdade condicional que lhe é concedida.


O regresso leva-o para o ponto de partida. Observa a casa de Abner e vê Adele (Holly Hunter), a sua irmã. Num misto de pena e remorso, o sentimento que o une a ela, acaba por se transformar em amor. Um amor desesperado e culpado, que não consegue resistir à verdade.


Num filme onde a culpa é o tema central, não podia faltar a referência religiosa, na pessoa de Miles Evans (Morgan Freeman), uma espécie de pastor pouco ortodoxo que obriga os jovens a escutar os seus sermões cheios de moralidade como parte do pagamento pelo parque onde estacionam os carros para ir à discoteca, símbolo extensivo da imoralidade. Manual arranja trabalho como seu ajudante, e é aí que conhece Sofia (Kirsten Dunst) uma jovem perdida numa espiral de droga e bebida.


Todos os personagens têm os seus pecados, os seus erros para corrigir, e o tranquilo final de Redenção resulta da esperança de que, de uma ou outra forma, é possível de facto corrigi-los. Por nos darmos conta de que temos algo para dar, de que conseguimos dá-lo, e de que merecemos que alguém receba o que damos.


Uma história simples, que facilmente poderia ter caído no registo de um vulgar telefilme, consegue marcar a sua diferença, não só pelo fantástico naipe de actores difícil de superar, mas também pela forma como Ed Solomon, na sua primeira realização para cinema, optou pelo caminho difícil do entendimento, sem julgamentos, do ser humano na sua complexa condição.





CITAÇÕES:


“I read a book that was written in the 11th century. A man said that there was five steps toward making amends. The first involved acknowledging what you did. The second involved remorse. The third involved making right with your neighbor. Like if you stole his chicken, you'd have to go and bring him another. Only then were you able to go to step four, which was making it right with God. But it wasn't until step five that you could really get redeemed. It had to do with being at the same place and the same situtation. That as it goes, you'd go and do something different.”
BILLY BOB THORNTON (Manual Jordan)