Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Fahrenheit 9/11 *****

01.09.04, Rita

Realização: Michael Moore. Argumento: Michael Moore. Género: Documentário. Nacionalidade: EUA, 2004.





É difícil avaliar este filme de forma distante. Saí da sala num misto de raiva, revolta, tristeza e incredulidade. Até as gargalhadas barulhentas eram ácidas. A realidade supera a ficção. Nenhum argumento poderia ser tão cruel, inconsequente, delirante e hipócrita e, ao mesmo tempo, tão consistente.


Michael Moore preferiu aparecer pouco desta vez, o material recolhido fala por si. Poderá ter havido alguma manipulação que potencie o impacto de “Fahrenheit 9/11”, já que não deixa de ser a defesa de um ponto de vista, mas negar o seu conteúdo geral seria enfiar a cabeça na areia.


Alguns relatos pessoais podem ser vistos como exploração do sofrimento, como o caso de Lila Lipscomb, que perdeu um filho no Iraque, mas são esses casos que nos fazem perceber que não é no abstracto que tudo se passa, e que as consequências de decisões político-económicas se fazem sentir em pessoas reais e não num “eles” impessoal com o qual nos é fácil conviver.


“Fahrenheit 9/11” mostra a incongruência do processo eleitoral que em 2000 colocou Bush na presidência dos EUA, o drama do ataque terrorista de 11 de Setembro e as acções levadas a cabo em consequência. Curiosamente, a única imagem que não temos é a do ataque. O ecrã escuro permite apenas ouvir e reviver as sensações que essa tragédia nos causou e às quais Moore vem adicionar informação.


Retemos a imagem de um presidente que cerca de 10 minutos após saber do ataque ao seu país se mantém impávido, numa sala de aula onde efectua mais um acto cosmético, sem saber o que fazer por não ter quem lhe diga. Um presidente que entre a sua eleição e o ataque terrorista passou 42% do seu tempo de férias, um presidente com laços económicos à família Bin Laden, à qual permitiu sair do país imediatamente após os ataques, quando todos os voos estavam cancelados, um presidente com interesses directos e indirectos no Iraque. Um país invadido e dizimado em nome da defesa de uma liberdade que é violada nessa mesma invasão. E o drama pessoal de quem é usado como peão num jogo de regras viciadas.


Ao contrário do que pode parecer, este é um filme patriótico que defende o americano médio, que ama e se sacrifica pelo seu país. E, por isso, merece a defesa dos seus interesses, que a sua opinião seja ouvida, que o seu voto conte. Sobretudo, que merece respeito. Tal como todos os seres humanos.


Um filme que é importante ver, não pela Palma de Ouro recebida em Cannes, mas porque esta realidade é também a nossa.




CITAÇÕES:


“It's not a matter of whether the war is not real, or if it is, Victory is not possible. The war is not meant to be won, it is meant to be continuous. Hierarchical society is only possible on the basis of poverty and ignorance. This new version is the past and no different past can ever have existed. In principle the war effort is always planned to keep society on the brink of starvation. The war is waged by the ruling group against its own subjects and its object is not the victory over either Eurasia or East Asia but to keep the very structure of society intact.”
NARRADOR (MICHAEL MOORE) citando GEORGE ORWELL


“I've always been amazed that the very people forced to live in the worst parts of town, go to the worst schools, and who have it the hardest are always the first to step up, to defend us. They serve so that we don't have to. They offer to give up their lives so that we can be free. It is remarkably their gift to us. And all they ask for in return is that we never send them into harm's way unless it is absolutely necessary. Will they ever trust us again?”
NARRADOR (MICHAEL MOORE)