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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Sem Ela... **

08.09.04, Rita

Realização: Anna da Palma. Elenco: Aurélien Wiik, Bernadette Peters, Maria Emília Correia, Vítor Norte, Isabel de Castro, Héléna Noguerra, Jocelyn Quivrin. Nacionalidade: Portugal, 2004.






Esta primeira obra da realizadora luso-francesa Anna de Palma, deixou-me um certo amargo de boca. Um pouco na linha do Minha Mãe, de Christophe Honoré, este filme trata igualmente de uma relação familiar atormentada por um misto de dependência e desejo. Desta feita, entre um casal de irmãos gémeos, Johnny (Wiik) e Fanfan (Peters), emigrantes portugueses de segunda geração. Mas, ao contrário do filme de Honoré, cujo desfecho vem claramente responder à pressão moral subjacente ao tema incestuoso, Sem Ela... não nos tranquiliza. E a agitação silenciosa que se fez sentir na sala é disso reflexo.


A ambígua relação de partilha dos dois irmãos começa por ser abalada quando Johnny percebe que a irmã tem uma vida da qual ele não faz parte. A sua insistência constante acaba por afastar a irmã, que, numa sede de individualidade, opta por permanecer em Portugal além do período de férias. A perda de referências por parte de Johnny, de regresso a França, leva-o a iniciar um tortuoso processo de busca da sua própria identidade. Por sua vez, Fanfan, num caminho aparentemente mais suave, admite em dado momento a sua incapacidade de cortar o cordão invisível que os une.


Boas representações de Maria Emília Correia e Vítor Norte, os pais, protagonizando também eles um conflito de identidades, respectivamente entre o emigrante que assume a sua nova vida no país estrangeiro que lhe deu tudo o que tem, e o emigrante que conta os dias para regressar àquela que, no fundo, nunca deixou de ser a sua casa. Talvez seja este o antagonismo mais relevante no filme.


No entanto, Anna da Palma não consegue fugir ao cliché do pai educador e da mãe protectora. E, surpreendentemente, nenhum dos dois parece ter noção da relação simbiótica dos dois filhos (existe uma outra filha, Inês (Noguerra), um personagem tão pouco trabalhado que quase parece nem fazer parte da família), nem da possibilidade dos problemas que surgem após a sua ruptura serem causados por essa dependência.


A este autismo há a acrescentar a inconsequência dos actos, patente em especial no final do filme. E a clara intenção de colocar o espectador face ao conflito de sensibilidade e frieza do personagem neo-nazi é de tal maneira forçada que fiquei na dúvida se havia de rir ou não. Não querendo terminar com o mesmo amargo de boca com que fiquei, há que referir, no lado dos méritos, o incontornável bom trabalho de direcção de actores.






CITAÇÕES:

“Conseguirão eles crescer um sem o outro?”