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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Capote ****

23.02.06, Rita

Realização: Bennett Miller. Elenco: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Clifton Collins Jr., Chris Cooper, Bruce Greenwood, Bob Balaban, Amy Ryan, Mark Pellegrino, Allie Mickelson, Marshall Bell, Araby Lockhart. Nacionalidade: Canadá / EUA, 2005.





15 de Novembro de 1959. Em Holcomb, Kansas a abastada família Clutter é assassinada. Truman Capote (Philip Seymour Hoffman), experimentando ainda o êxito do seu último livro, “Breakfast at Tiffany’s”, lê a notícia desse massacre no New York Times e decide fazer um artigo para o New Yorker sobre os efeitos desse evento naquela comunidade. Acompanhado da sua amiga de infância Harper Lee (Catherine Keener), que está prestes a lançar o livro “To Kill a Mockingbird” vencedor do prémio Pulitzer, Capote inicia a sua pesquisa.


À medida que vai entrando nos detalhes desta história sórdida, quer através do detective que está a investigar o caso, Alvin Dewey (Chris Cooper), quer pela captura dos assassinos Perry Smith (Clifton Collins Jr.) e Richard Hickock (Mark Pellegrino), Capote decide que aquele material deverá ser utilizado para um livro - o romance não-ficcional “In Cold Blood” (1966), que lhe traria fama internacional.


Capote estabelece uma relação de proximidade com os reclusos, especialmente Perry, com o qual sente uma estranha identificação pelo seu carácter sensível, temperamental, criativo e incompreendido. O conflito de Capote, o seu dilema moral, é entre a obsessão por terminar um livro que se arrasta com os consecutivos adiamentos da execução dos criminosos, e a compaixão que sente por eles.


Em vez de condensar a vida de Capote em duas horas, Bennett Miller opta por se focar num acontecimento que marcou a sua vida, incluindo um forte desgaste emocional com graves e irreversíveis custos para a sua sanidade e integridade. De tal forma que, depois deste livro, ele não voltou a terminar mais nenhuma obra, tendo sucumbido ao álcool e às drogas que conduziram à sua morte em 1984.


O argumento de Dan Futterman, com base no livro de Gerald Clark “Capote: A Biography”, vai desvendando subtilmente as neuroses de Capote, a deterioração da sua relação com o também escritor Jack Dunphy (Bruce Greenwood), a alienação relativamente aos seus amigos, o ciúme pelo êxito de Harper Lee, o seu problema com o álcool. Ainda assim ficamos com a sensação de que, da mesma forma que Capote manipula tudo e todos para alimentar a sua obra e o seu ego, também neste filme ele é manipulado para efeitos dramáticos.


Mas ver Philip Seymour Hoffman compensa tudo. Depois de uma carreira cheia de fortes interpretações, Philip Seymour Hoffman tem aqui um papel à sua medida. Hipnotizador: na excentricidade, na voz infantil, nos maneirismos que nunca caem na caricatura, na sua linguagem corporal, nas suas capas emocionais. Catherine Keener e Chris Cooper estão inquestionavelmente bem, mas “Capote” é Philip Seymour Hoffman.


A reconstrução do período entre 1959 e 1965 está pensada ao pormenor (até a embalagem da aspirina) e o cuidado para que Hoffman pareça mais baixo do que realmente é para se assemelhar a Capote (que tinha 1,60m enquanto Hoffman tem 1,78m) é patente quer na filmagem quer no guarda-roupa. É esta atenção ao detalhe que nos faz sair de uma sala com a certeza de que o cinema é uma arte de artes.


“Capote” é um filme rico, absorvente e cheio de matizes. Um filme cativante sobre o agonizante processo criativo de um escritor.






CITAÇÕES:


“Ever since I was a child, folks have thought they had me pegged, because of the way I am, the way I talk. And they're always wrong.”
PHILIP SEYMOUN HOFFMAN (Truman Capote)


“It's as if Perry and I grew up in the same house. One day he stood up and he went out the back door and I went out the front.”
PHILIP SEYMOUN HOFFMAN (Truman Capote)


“I thought that Mr. Clutter was a very nice gentleman. I thought so right up to the moment that I cut his throat.”
CLIFTON COLLINS JR. (Perry Smith)



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