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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Sex is Comedy ***

11.10.04, Rita

Realização: Catherine Breillat. Elenco: Anne Parillaud, Grégoire Colin, Roxane Mesquida, Ashley Wanninger. Nacionalidade: França / Portugal, 2002.





“Sex is Comedy” é uma homenagem aos actores em geral (impessoais aqui, sem nome), feita por uma realizadora real (Breillat) através de uma realizadora ficcional, Jeanne (Parrilaud), que tenta a todo o custo estabelecer uma relação de proximidade com e entre os protagonistas do seu filme (Colin e Mesquida).


A inspiração para este filme foi uma cena de sexo filmada anteriormente por Breillat no filme “A Ma Soeur!” (2001), que Mesquida também interpreta. Aqui Breillat centra o esforço de Jeanne na construção de uma cena semelhante, com dois actores cuja empatia é basicamente nula.


Numa abordagem apologética e autocrítica, Breillat desenha uma realizadora demasiado próxima de si mesma, retratando-a como egoísta, obsessiva e quase vampiresca na forma como tenta sugar a energia dos SEUS actores, exigindo-lhes tudo para além dos seus limites, num perfeccionismo tão exigente consigo como com os outros. No entanto, simultaneamente, o seu amor pelos actores é tremendo e muito superior à história que eles servem, estabelecendo-se uma relação estranhamente íntima, pautada de chantagens emocionais. Porque a confiança mútua, ainda que manipulada, é a única forma de se poder ir mais além, uma na sua criatividade e os outros na sua sensibilidade.


O filme de Breillat é lento, ao ritmo da angústia das indecisões, dos conflitos, da gestão de produção de cada detalhe de luz ou movimento. Este é um filme sobre um filme, onde Breillat utilizou a sua equipa de produção para fazer de equipa de produção. Mas, para além de um documentário que nos mostra os bastidores, aqui é-nos mostrado o que está para lá de cada pessoa: os seus medos, inseguranças, a sua abdicação, dedicação, o compromisso com o seu trabalho.


Mais do que tudo, este filme parece ser uma resposta de Breillat a críticas sobre a crueza com que ela filma o sexo, expressando a agonia (e não o voyeurismo) da concretização das suas ideias. Onde a intimidade de uma cena que a nós, espectadores, nos parece brutalmente invadida não é mais do que um grupo extenso de trabalhadores de uma indústria no seu quotidiano.


Esta obra um tanto narcisista é também uma referência ao cinema como máquina de ilusões, e onde o sexo, tal como quase tudo o resto, não passa de uma farsa. E, por um caminho por vezes extenuante mas com algum humor, Breillat conduz-nos à melhor parte do filme, o clímax final. A analogia com o orgasmo é inevitável...




CITAÇÕES:


“Sex is what people do most and admit least.”
ANNE PARILLAUD (Jeanne)


















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