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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Immortel (ad vitam) ***

12.10.04, Rita

Realização: Enki Bilal. Elenco: Linda Hardy, Thomas Kretschmann, Charlotte Rampling, Frédéric Pierrot. Nacionalidade: França / Itália / Reino Unido, 2004.





Nikopol (Kretschmann), um revolucionário, encontra-se preso há 30 anos, orbitando a Terra de 2095, mas o seu espírito continua a comunicar com os seres que a habitam, maioritariamente não-humanos, criando um ambiente de conflito ideológico com o poder reinante.


Suspensa sobre Nova Iorque encontra-se uma pirâmide, morada de antigos deuses egípcios, entre os quais Horus, o deus falcão. O seu estatuto de imortal é revogado, o que o conduz a uma última oportunidade de resolver os seus assuntos e salvar o pouco que resta da humanidade. Para isso ele precisa de um corpo humano, e é Nikopol que, contra a sua vontade, vai ser usado como veículo para os seus propósitos.


Jill (Hardy) faz também parte do plano de Horus. A sua condição de mutante desperta o interesse da médica Elma Turner (Rampling). John, o seu único amigo, fornece-lhe as drogas necessárias para a fazer reajustar a um mundo que não é o dela.


Num contexto de intriga política, corrupção empresarial e revolução iminente estes dois personagens vão ser ver obrigados a conviver e a descobrir-se, apesar dos segredos que cada um guarda.


Suponho que se eu tivesse lido alguma das obras de BD de Bilal, entre as quais a Trilogia Nikopol (La Femme piège / La Foire aux immortels / Froid équateur), não me teria surpreendido tanto com este filme do ponto de vista visual. Os cenários são uma verdadeira obra de arte em detalhes, cores frias e imaginação futurista, com destaque para o micro-clima gelado de Central Park. Os efeitos 3-D em perfeita combinação com as três dimensões reais são espantosos, o que contrasta com o trabalho quase minimalista de alguns personagens, nomeadamente os vilões.


O confronto da óptima concepção artística é ainda maior quando pensamos na história básica deste “Immortel (ad vitam)”. O uso de actores reais era dispensável, já que Bilal mal consegue aproveitar as suas capacidades. Depois de “Swimming Pool” é quase chocante ver Charlotte Rampling neste filme. A poesia que este filme poderia / deveria ter é mal consubstanciada nos murmúrios delirantes de Nikopol.


Talvez algumas obras tenham o seu lugar próprio e insistir que elas pertençam a outro mundo seja demasiada arrogância. Mas apesar de tudo, e porque a curiosidade foi despertada, fica a vontade de um destes dias ir à Fnac e sentar-me um pouco com estes livros.




CURIOSIDADE:


Nascido em Belgrado, Bilal aprendeu francês aos 6 anos de idade e descobriu Baudelaire na sua adolescência. Em homenagem ao poeta, os versos de Une Charogne e Poison, dois poemas de Fleurs du mal iniciam e terminam o filme “Immortel (ad vitam)”.