Collateral ***
Realização: Michael Mann. Elenco: Tom Cruise, Jamie Foxx, Jada Pinkett Smith, Mark Ruffalo, Peter Berg, Bruce McGill, Javier Bardem. Nacionalidade: EUA, 2004.
Sempre gostei de vilões, mas até ontem não tinha percebido exactamente porquê. E não é o simples fascínio pela sua inteligência, ou o seu carácter altamente cerebral. Mas sim o facto de eles representarem aquela parte de nós que raramente admitimos possuir e à qual só por algumas deturpadoras circunstâncias de vida lá poderemos chegar.
Eles são egoístas, frios, insensíveis, ou simplesmente maus. E custa crer que todos temos isso em nós, ainda que em potencial. Mas confesso que me dá um especial prazer espreitar esse meu lado negro, que se regozija com a destruição como forma de arte, com a dedicação a uma missão, com a prossecução de objectivos, com o hedonismo.
Talvez não devesse admitir esta minha inclinação para a violência, mas como explicar o sorriso quando são disparados alguns tiros certeiros e a atracção dos jorros espessos de sangue? Acho que tudo se cinge ao eterno sonho do Homem de se tornar naquele que foi um dia criado à sua imagem. O poder, resumido num gatilho ou na ponta de uma espada, de fazer nada de tudo.
Um taxi, um taxista (Foxx), um cliente (Cruise), uma cliente (Pinkett Smith), cinco destinos, uma noite. Nisto se resume Colateral. Poupa-se no guarda roupa aquilo que se gasta em filmagens aéreas. Poupa-se em cenário aquilo que se gasta em munições. Poupa-se na representação aquilo que se gasta em cachets.
Sim, Cruise surpreende. Mas não exactamente por ter aqui o papel da sua vida (ainda está para vir aquele que destrone o de Magnolia, de P.T.Anderson), mas porque nos habituou, desde cedo, a esperar muito pouco dele. É uma estratégia como qualquer outra, mas admito que ele está no bom caminho. Talvez quando aquele cabelo grisalho for a sério possamos realmente admitir que ele amadureceu. De qualquer forma, esta é uma boa tentativa. O seu assassino é cruel e obsessivo, é implacável e impenetrável, e, no entanto, tem momentos de puro sentimento, quase fugidos da sua própria vontade.
Foxx está bem, num registo entre o medo e a coragem. Depois de Niobe em Matrix, Pinkett Smith é a “damsel in distress” por excelência, sedutora e frágil. Javier Bardem enche um ecrã mesmo que seja a um canto. Quanto a Rufallo, não posso evitar ser parcial, e para o muito que gosto dele sabe sempre a pouco não ser ele o protagonista.
Tendo em conta que Michael Mann nos deu O Último dos Moicanos, Heat-Cidade sobre Pressão e O Informador, Colateral não é definitivamente o seu melhor trabalho, ainda que a noite de L.A. tenha sido eximiamente filmada e a exiguidade do espaço de um carro tenha parecido um palco. Mas vi mais tensão esta manhã nas caras no Metro...
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“It started like any other night.”
CITAÇÃO:
“You can run but you'll die tired.”