Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

A luta suja dos Óscares

24.11.04, Rita

Hollywood sempre gostou de uma boa guerra - e das lutas sujas também. Os Óscares são o melhor campo de batalha para uma lista infindável de maledicência, roupa suja e ataques venenosos. Afinal, a estatueta pode dourar a carreira de um filme ou de um actor. Ou matá-la, até uma próxima "première".


Após os atentados de 11 de Setembro, a imprensa americana anunciou o advento de uma nova indústria na meca do cinema: pipocas sem violência, sobriedade nas festas e unanimidade a rodos. Nem uma coisa, nem outra. Logo depois, em Março de 2002, o actor Russell Crowe digladiava-se na arena, apesar do seu combate ser no campo da inteligência, sem ponta do «Gladiador» que lhe tinha dado o Óscar de Melhor Actor em 2001. O filme «Uma Mente Brilhante», biografia filmada do matemático esquizofrénico e prémio Nobel John Nash, foi à época acusado de "apagar" sinais de anti-semitismo e homossexualidade (que existiriam na biografia real de Nash) - para se portar bem nos Óscares e não afastar os votos de judeus e "gays".


Nesse mesmo ano, os apoiantes dos três actores negros nomeados - o maior número de sempre numa só edição de Óscares - sopravam aos quatro ventos que Hollywood provaria que era racista se nenhum deles ganhasse. Ganharam dois dos nomeados (Denzel Washington e Halle Berry, a primeira mulher). É verdade que, à época, e em 74 edições, apenas um actor negro tinha recebido o principal prémio de interpretação - Sidney Poitier.


«As campanhas foram sempre extremamente competitivas, mas não me lembro de uma que tenha sido tão baixa e tão suja como a deste ano [de 2002]», comentava Robert Osborne, colunista do Hollywood Reporter e autor de um livro sobre a história dos Óscares («70 Years of the Oscar: The Official History of the Academy Awards»). Depois disso, os ataques continuaram sujos. E as campanhas mais violentas.


Afinal, nada é deixado ao acaso. Como políticos, os nomeados visitam potenciais votantes. As feiras e os mercados são substituídos por lares de antigos trabalhadores da indústria e os tempos de antena são "banners" e anúncios de páginas inteiras em "sites" e revistas da especialidade (basta ir às páginas "online" da Variety ou do Hollywood Repórter e descobrir a quantidade de filmes anunciados «for your consideration» - e o "for your" não é dirigido ao espectador, mas sim ao membro da Academia). Peritos de "marketing" são contratados para vender o seu produto - ou, pior, para dizer mal, muito mal, das coisas dos outros.


Mas a prática de conquistar os votos dos membros da Academia por métodos menos ortodoxos (que não sejam apenas as qualidades dos próprios filmes) não é de agora. Em 1930, a fundadora da Academia Mary Pickford ganhou o Óscar para melhor actriz depois de sumptuosas festas dadas a membros da instituição. E na década de 30, os grandes estúdios diziam aos seus artistas contratados em quem votar.


No entanto, a guerra aberta que agora antecede o "dia D" começou de facto há coisa de cinco anos: a Miramax produziu o vencedor da noite, «A Paixão de Shakespeare», com uma agressiva campanha publicitária - e «O Resgate do Soldado Ryan», de Steven Spielberg, não foi salvo do desastre. O mais forte na publicidade nem sempre é o melhor na qualidade cinematográfica.


A verdade é que o negócio do cinema não se compadece com insucessos na noite dos Óscares. Todos sorriem, todos batem palmadinhas nas costas uns dos outros, mas a cerimónia pode revitalizar a carreira industrial de um filme (como fez por exemplo com «O Silêncio dos Inocentes»). E se uma maldadezinha ajudar, por que não? «The show must go on».



por Miguel

 

1 comentário

Comentar post