Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Land of Plenty ****

25.11.04, Rita

Realização: Wim Wenders. Elenco: John Diehl, Michelle Williams, Shaun Toub, Wendell Pierce, Richard Edson. Nacionalidade: EUA, 2004.





Depois da desilusão dos resultados das eleições presidenciais norte-americanas, a última coisa que me apetecia era ver um filme sobre os Estados Unidos. Especialmente quando me parecia que versava sobre um obcecado patriota no pós-11 Setembro. Deixei-me convencer por um amigo que argumentou que quase de certeza este filme não chegaria a passar na sua cidade, e, claro, pelo nome Wim Wenders. Não me arrependi.


John Diehl é Paul, um veterano do Vietname, atormentado pelos pesadelos da guerra, entupido em comprimidos que atenuam os efeitos dos químicos a que esteve sujeito. O amor que tem ao seu país faz com que, após os ataques do 11 de Setembro, monte um sistema de vigilância áudio e vídeo na sua carrinha a percorra as ruas de Los Angeles (numa visão bem menos glamourosa que o habitual) em busca de todas as pistas que possam servir de ligação aos crimes, concentrando-se obviamente em todos os árabes que encontra.


Michelle Williams é Lana, a sua sobrinha, que cresceu entre África e o Médio Oriente e está de regresso de Tel Aviv, na esperança de poder contribuir para a cura das muitas feridas do seu país natal através do seu trabalho social numa missão cristã. A sua profunda fé em Deus é equiparada à fé de Paul em tudo aquilo que o seu país representa.


Wim Wenders é um alemão que vive nos Estados Unidos e a sua visão apresenta duas vertentes: a distância e a proximidade. A primeira talvez choque os americanos, a segunda os europeus. É inegável que os Estados Unidos conseguem, neste momento, angariar talvez a maior oposição que já tiveram deste lado do Atlântico, mas é preciso entender que quando falamos de um país, falamos de pessoas, de indivíduos que não podemos (devemos) generalizar numa massa compacta e disforme.


Poderia falar dos dois fantásticos protagonistas, da beleza das imagens, da inquestionável qualidade da banda sonora, mas este filme consegue, de facto se muito mais do que a soma das partes. Fala-nos da perda de inocência (e também de algum senso comum), de duas almas que tentam encontrar o seu caminho num mundo que perdeu toda a lógica. Por isso também eles são irracionais. Porque a emoção é tudo o que lhes resta.


O grande poder do terror é fazer com que passemos a olhar por cima do ombro a todo o momento, a julgar os outros preconceituosamente segundo a medida do mal, a viver no medo de sermos vítimas, e na impotência para evitar qualquer tragédia que possa ocorrer.


Mas há que encontrar em nós a réstia de amor pelo ser humano, que nos permita viver a nossa vida com respeito pelo outro, e, consequentemente, por nós próprios. Porque o amor não se mede pela força com que conseguimos defender aquilo que achamos que nos pertence, mas sim pela capacidade de partilhar o que somos.




CITAÇÕES:


“My home is not a place, it is people.”
SHAUN TOUB (Hassan)

“I would like to hear their voices. Because I don’t think they would like that others were killed in their name.”
MICHELLE WILLIAMS (Lana)

“May the lights in The Land of Plenty shine on the thruth some day.”
LEONARD COHEN