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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Être et Avoir ****

26.11.04, Rita

Realização: Nicolas Philibert. Elenco: Georges Lopez, Alizé, Axel, Guillaume, Jessie, Johann, JoJo, Jonathan, Julien, Laura, Létitia, Marie, Nathalie, Olivier. Nacionalidade: França, 2002.





Philibert leva-nos a Auvergne, França, numa viagem desde o agreste Inverno, passando pela suave Primavera, até ao sol de Verão, quando termina o ano escolar (em Junho de 2001). O padrão da mudança é acompanhado pelo crescimento e pela aprendizagem de um grupo de jovens entre os 4 e os 12 anos. O professor, Georges Lopez, 55 anos e 30 de ensino, está a um ano e meio da reforma.


Este documentário retrata a relação entre professor e alunos, a sua tentativa de chegar até eles, muitas vezes impenetráveis na sua timidez, na sua desconcentração. Na sua ilimitada paciência, Lopez responde às perguntas dos alunos com outras questões, conduzindo-os às respostas através do caminho da compreensão. Ele é amigo, família, educador, mentor. Apesar de ser evidente a distância (de segurança?) que mantém dos seus alunos, a relação que temos o privilégio de observar é uma relação de amor, de compromisso. Lopez lida com as várias vertentes dos seus alunos com uma extrema sensibilidade e atenção. Respeitando a sua inocência e ingenuidade, mas abrindo-lhes as portas de um mundo complexo.


A proximidade de uns e outros é evidente. Quando o professor fala sobre a sua reforma, o choque e a preocupação dos alunos quase se podem tocar. O mesmo acontece com o respeito que os une, claramente mútuo e sem condescendências.


Philibert escolheu esta escola cuidadosamente de entre 300 e visitou mais de 100 no período de um ano. Um reduzido grupo de alunos permitiria que ficássemos a conhecê-los a todos, e Philibert acertou em cheio, com eles e com Lopez. A sua equipa de filmagens adquiriu uma invisibilidade impressionante, e só muito raramente as crianças se dão conta dela. A sua naturalidade é totalmente desarmante, especialmente tendo em conta o nível de intimidade que temos oportunidade de observar.


Existe algo de básico, de essencial, neste momento esquecido da infância. É com sentida emoção e um fascínio sorridente, quase reverente, que o vemos. Há algo de divino nesta aquisição das ferramentas básicas da aprendizagem e dos dolorosos processos que lhe estão inerentes, seja aprender a desenhar as letras, seja saber qual o número que vem depois do “seis”.


O tom de documentário aparece apenas uma vez, num momento em que Lopez fala da sua vida, do seu compromisso com o ensino, e dos sacrifícios dos seus pais para que ele tivesse uma boa educação. Compromisso esse que ele renova com cada um dos seus alunos.


Na despedida fica a angústia. O vazio dos olhares de descoberta que antes enchiam a sala. O silêncio doloroso que as crianças deixam atrás de si. Tal como Georges, também nós ficamos sem palavras.


No final deste filme, dois nomes vêm-me à memória: Manuela, a minha professora primária e Albertina, a minha professora de inglês do 10º ao 12º. À primeira perdi-lhe o rasto, a segunda é sempre um dos meus postais de Natal. Talvez eu ainda não me tenha dado conta da sua contribuição para a pessoa que sou hoje, mas fica aqui um obrigada. Pelas doces recordações... Por aquilo que sou, por aquilo que tenho.




CITAÇÕES:


“- É de manhã ou de tarde? JOJO
- Já almoçámos? GEORGES LOPEZ
- Não. JOJO
- Então é de manhã. GEORGES LOPEZ”


“- Podemos contar para sempre? GEORGES LOPEZ
- Não. JOJO”






















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