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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Alexander ***

29.12.04, Rita

Realização: Oliver Stone. Elenco: Colin Farrell, Angelina Jolie, Val Kilmer, Jared Leto, Anthony Hopkins, Christopher Plummer, Jonathan Rhys-Meyers, John Kavanagh, Rosario Dawson, Rory McCann, Joseph Morgan, Elliot Cowan, Gary Stretch Jessie Kamm. Nacionalidade: USA / Reino Unido / Alemanha / Holanda, 2004.





Este filme poderia ser um épico, mas é apenas uma história, e não ficará certamente marcado como o melhor filme de Oliver Stone.


Alexandre (Farrell), o herói macedónio que se impôs sobre o império persa e morreu aos 33 anos, é o protagonista de uma história edipiana, onde o amor desmedido, e com um odor incestuoso, da sua mãe, Olímpia (Jolie), é confrontado com a admiração pelo pai, o Rei Filipe II da Macedónia (Kilmer). Alexandre acaba por tornar-se um chefe militar como o seu pai, para fugir à sufocante prisão do amor e ambição da sua mãe. O conflito destas duas forças, feminina e masculina, acabam por se reproduzir na bissexualidade de Alexandre. E a sua origem helénica, de marcada cultura masculina, é posta em oposição à sedução da feminina sociedade oriental.


É notória a distância que Alexandre procura colocar entre ele e Olímpia: não é por acaso que retira a pulseira do braço de Roxana (Dawson), demasiado semelhante às cobras que Olímpia costumava conservar perto de si. Um outro pormenor prende-se com a cena inicial. À semelhança de Citizen Kane, quando o personagem de Orson Welles deixa cair o globo de neve sussurrando “Rosebud”, Alexandre deixa cair o anel que lhe foi oferecido por Hefestião (Leto), seu amigo e amante.


O seu sonho de unir o mundo oriental ao ocidental caiu por terra depois da sua morte, com o império que construiu sendo dividido entre os seus chefes militares.


O excelente elenco deste filme é liderado por um Colin Farrell empenhado e dedicado de corpo e alma ao personagem e por um Val Kilmer assombroso. Angelina Jolie personifica frieza e calculismo ao serviço de um incondicional afecto. O casting foi ao detalhe de seleccionar os companheiros de Alexandre segundo o critério da androgenia e perfeição física que caracterizavam os padrões de beleza/equilíbrio físico da época, sendo de salientar Jared Leto e Jonathan Rhys-Meyers (Cassandro) (que já tínhamos visto como Brian Slade em Velvet Goldmine, de Todd Haynes).


Quanto aos pesos pesados Anthony Hopkins (Ptolomeu) e Christopher Plummer (Aristóteles), o segundo compensa em credibilidade o que falta ao primeiro, sobretudo devido à difícil transição entre o personagem da sua juventude e o da sua velhice.


Em resumo, aqui ficam os prós e os contras.



Pontos fortes:

• As cenas de batalha. O trabalho de câmara coloca-nos in situ, transformando a exigência física dos guerreiros numa exigência visual do espectador. A preferência vai para a última batalha, na Índia, onde Stone nos oferece a melhor peleia desde a batalha de Minas Tirith em O Senhor dos Anéis – O Regresso do Rei (sim, senti falta de Tolkien este Dezembro...).

• Stone tem também o mérito de, no meio de factos controversos e muitos mitos, ter tentado chegar à “pessoa” que pode ter sido Alexandre, complexa e contraditória, cruel e magnânimo, arrogante e generoso.

• A homossexualidade não é aflorada, é relatada. O extremo machismo da Grécia Antiga, em que a união de dois homens era o mais puro caminho para o conhecimento, fazia com que a mulher fosse relegada para um plano de procriação e encarnação do mal.

• A expressiva sacralização de um líder, e a consequente paranóia que o rodeava.

• A fantástica caracterização dos personagens cegos.



Pontos fracos:


• Apesar da patente homossexualidade, a única cena de sexo é heterossexual, e a atracção entre Alexandre e Hefestião não passa de uns olhares intensos e uns abraços apertados. Stone foi aqui, a meu ver, demasiado cuidadoso (afinal de contas as bilheteiras tinham que pagar o investimento).

• Ptolomeu é apresentado como o contador da história, no entanto, uma boa parte do relato são episódios onde ele não esteve presente. O elo de ligação entre público e Alexandre perde-se no difuso papel que o mesmo Ptolomeu tem na parte central do filme.

• Bem sei que havia o rumor de Olímpia, a mãe de Alexandre, ser uma feiticeira, mas não teria sido possível gastar um pouco do orçamento na caracterização de Angelina Jolie. Todos sabemos que ela é bela e pérfida, mas como mãe de um Colin ‘Alexandre’ Farrell, a falta de rugas retira-lhe um pouco de credibilidade.

• Jolie parece ter sido a única a esforçar-se por um sotaque diferente. Houve momentos em que pensei que Farrell fosse pedir uma “pint” de Guinness, no seu sotaque irlandês.

• Poderia o louro de Farrell ser mais artificial?

• Ficou a faltar o episódio segundo o qual, na Górdia, Alexandre cortou o “Nó Górdio”, cumprindo o oráculo que prometia o império da Ásia a quem conseguisse desatar o complicado nó.

• Gostaria que alguns pormenores de geografia política e estratégia tivessem sido mais bem explicados. Perdi-me algures entre a Babilónia, Egipto e Macedónia. Para os curiosos, aqui fica o mapa do trajecto feito por Alexandre III durante o seu reinado.






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CITAÇÕES:


“No man or woman could be too powerful or beautiful without disaster befalling.”
FILIPE II DA MACEDÓNIA (Val Kilmer)

“A king isn't born, Alexander; he's made.”
FILIPE II DA MACEDÓNIA (Val Kilmer)

“Conquer your fear, and I promise you'll conquer death.”
ALEXANDRE, O GRANDE (Colin Farrell)

“In the end, all that matters is what you've done.”
ALEXANDRE, O GRANDE (Colin Farrell)

“They say the only time Alexander was ever defeated was between Hephaistion's thighs.”
PTOLOMEU (Anthony Hopkins)


































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