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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Finding Neverland ***

13.01.05, Rita

Realização: Marc Forster. Elenco: Johnny Depp, Kate Winslet, Julie Christie, Rhada Mitchell, Dustin Hoffman, Freddie Highmore, Joe Prospero, Nick Roud, Luke Spill, Ian Hart, Kelly Macdonald. Nacionalidade: EUA / Reino Unido, 2004.





Londres. 1903. O dramaturgo escocês J.M. Barrie (1860-1937) (Johnny Depp) assiste ao falhanço da sua mais recente peça. Na sua procura de inspiração pelos jardins de Kensington conhece a família Llewelyn Davies: quatro jovens rapazes e a sua mãe recentemente viúva, Sylvia (Kate Winslet). Apesar da desaprovação desta amizade por parte da mãe de Sylvia, Emma du Maurier (Julie Christie), e da própria mulher de Barrie, Mary (Radha Mitchell), a amizade com esta família, em especial através das brincadeiras com as crianças, serviu de matéria-prima para a famosa obra Peter Pan.


Um pouco à semelhança do ainda por estrear “Being Julia”, de István Szabó, este é também um filme sobre o teatro, a sua magia, a sua força e a sua capacidade de tocar os espectadores de uma forma que muito raramente o cinema consegue. É também sobre uma amizade que inspirou uma obra que vive até aos dias de hoje. Uma inspiração que nos rodeia, se soubermos vê-la e recebê-la.


“Finding Neverland” fala de acreditar na magia, a magia das ligações entre as pessoas, a liberdade e a verdade que devemos manter connosco próprios. E, acima de tudo, de compreendermos o que realmente significa crescer, sem romper com o passado, mas aceitando-o, sabendo encontrar essa tal Terra do Nunca, um lugar para onde as crianças vão quando o seu ser terreno é obrigado a crescer, um lugar seguro, longe das mentiras do mundo adulto, onde estão sempre protegidos.


Tudo bem, é um pouco lamecha (admito uma lágrima, ou talvez fosse o resfriado), mas, de qualquer forma, é uma bonita viagem. A maravilhosa fotografia de Roberto Schaefer, a bela banda sonora de Jan A.P. Kaczmarek que cumpre eficazmente o seu papel de harmonizar a história sem a dominar. E Forster consegue equilibrar os elementos fantásticos e a tragédia que rodeia alguns dos personagens, de forma a que não se torne demasiado pesado ou sentimental.


Como resultado, os espectadores podem relaxar com o desvelar da imaginação de Barrie, acompanhando as constantes inspirações visuais para os principais papéis de Peter Pan (cheguei a pensar que o personagem de Dustin Hoffman, o promotor de espectáculos Charles Frohman, tivesse sido a inspiração para o Capitão Gancho, que o mesmo Hoffman representou em “Hook” (1991), de Steven Spielberg), e ao mesmo tempo assistir a Barrie enfrentando o desmoronar do seu casamento, os seus crescentes sentimentos por Sylvia e o seu novo papel junto daquelas crianças.


O meu fascínio pelo trabalho de Depp é reforçado por esta representação, entre o educador moldador de carácter e a criança inconsequente. O seu cunho e dedicação pessoal são incomparáveis. A sua química com Winslet, assexuada diga-se, é também notável. Mas a grande surpresa foi, sem dúvida, Freddie Highmore (Peter) que se salienta entre o jovem elenco, num registo grave e doce. Será certamente um deleite vê-lo contracenar de novo com Depp no mais recente filme de Tim Burton, “Charlie and the Chocolate Factory”.


Dada a minha obsessão pelo pormenor, não posso deixar escapar algumas falhas biográficas desta história, como é o caso de que Sylvia não era viúva quando Barrie a conheceu, apesar do seu marido, Arthur, não ver com muito bons olhos aquela “invasão” e de que tinham cinco filhos, e não quatro. Mas suponho que o próprio Barrie não faria questão de ater-se à realidade em prol de uma boa fantasia.


Apesar de um final previsível quase desde o início e dos momentos finais parecerem exageradamente manipuladores, “Finding Neverland” tem o mérito de nos levar ao momento, onde, em 1904, pela primeira vez foi visto Peter Pan, e o impacto que teria sido ver um conto de fadas a nascer.


Há ainda uma parte em muitos de nós que quer permanecer jovem e despreocupada para sempre. E se essa parte ainda estiver viva, este filme irá tocá-la, nem que seja ao de leve.





CITAÇÕES:


“- That "golden" scepter is just an old hunk of wood.” FREDDIE HIGHMORE (Peter Llewelyn Davies)
“- Ah, yes, well... we're dreaming on a budget.” JOHNNY DEPP (J.M. Barrie)

“- This is absurd. It's just a dog.” FREDDIE HIGHMORE (Peter Llewelyn Davies)
“- Just a dog? Rufus dreams of being a bear, and you want to shatter those dreams by saying he's just a dog? What a horrible candle-snuffing word. That's like saying, "He can't climb that mountain, he's just a man," or "That's not a diamond, it's just a rock." Just.” JOHNNY DEPP (J.M. Barrie)

“- And what precisely is Michael's crime?” JOHNNY DEPP (J.M. Barrie)
“- He's my younger brother.” NICK ROUD (George Llewelyn Davies)
“- Ah. Fair enough.” JOHNNY DEPP (J.M. Barrie)


“- Mummy, can we have Uncle Jim for dinner?” LUKE SPILL (Michael Llewelyn Davies)
“- Have him OVER for dinner. We're not cannibals.” KATE WINSLET (Sylvia Llewelyn Davies)

“Young boys should never be sent to bed. They always wake up a day older.”
JOHNNY DEPP (J.M. Barrie)
























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