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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Good Night, And Good Luck ****

08.03.06, Rita

Realização: George Clooney. Elenco: David Strathairn, Robert Downey Jr., Patricia Clarkson, Ray Wise, Frank Langella, Jeff Daniels, George Clooney, Tate Donovan, Matt Ross, Reed Diamond, Grant Heslov. Nacionalidade: Japão / França / Reino Unido / EUA, 2005.





“Good Night, And Good Luck” não é uma lição de história sobre a América dos anos 50, nem sequer uma biografia do jornalista Edward R. Murrow, que em 1954 confrontou no seu programa televisivo “See It Now” o Senador Joseph McCarthy, presidente do Subcomité Permanente de Investigações do Senado, pelo seu indiscriminado furor anti-comunista e abuso de poder, evidenciando a fina linha que divide investigação de perseguição.


A acção decorre entre o Inverno de 1953 e a Primavera de 1954, em que Murrow (David Strathairn) tenta convencer o produtor Fred Friendly (Clooney) a deixá-lo ir atrás de McCarthy. Cuidadosamente, escolhem o caso de Milo Radulovich, um veterano da Segunda Guerra Mundial que está a ser expulso da Força Aérea por suspeitas de que o seu pai e irmã possam ser simpatizantes comunistas.


A segunda realização de George Clooney, três anos depois de “Confessions of a Dangerous Mind”, apesar de todo o contexto histórico, reforçado pelo visual preto e branco da fotografia de Robert Elswit, acaba por ser dolorosamente actual. “Good Night, And Good Luck” fala da censura do governo, da cobardia e falta de imparcialidade dos media, do poder da publicidade (como é o caso da tabaqueira que alimenta o vício de 3 maços por dia de Murrow) e de um público demasiado estupidificado pelo entretenimento para digerir informações que o possam chocar.


Sem sermões, o argumento de Clooney (filho de um jornalista e claro admirador de Edward R. Murrow) e do também actor Grant Heslov (aqui no papel de Don Hewitt) é acutilante e de fortes convicções, dando também voz ao ansioso e razoável chefe de Murrow (Jeff Daniels) e o director da estação CBS William Paley (o soberbo Frank Langella).


A extensa equipa de produção, onde se inclui Steven Soderbergh, não podia ter encontrado melhor actor para fazer os necessários discursos. O Murrow de Strathairn não sorri mas tem humor, é reservado mas não insensível. E concentra um poder imenso na voz monocórdica, no lento inalar de um cigarro, um olhar intenso para a câmara. Ao não se abordar a vida pessoal de Murrow, ele acaba por se tornar símbolo das liberdades constitucionais, reivindicadas contra acções movidas por rumores e insinuações, onde se suspeita de tudo o que possa ser diferente.


Da mesma forma que Murrow usa as próprias palavras de McCarthy para o derrubar, também Clooney opta por usar as imagens de arquivo de McCarthy. O ritmo que impregna à história é irrepreensível, alternando cenas dramáticas com belíssimos interlúdios de jazz na voz de Dianne Reeves, igualmente importantes na construção do forte ambiente do filme.


A grande falha de “Good Night, And Good Luck” é, na minha opinião, a falta de contexto histórico. Entra-se a tal velocidade no enredo que, um espectador que esteja mais fora desta realidade histórica americana, facilmente se sentirá perdido (talvez mais uma das recorrentes presunções do cinema americano de que todos sabemos o que lá se passa, ou que nos importamos...). Clooney faz uma insuficiente tentativa de caracterizar a repressão e a tensão vivida na época através storylines paralelas mais pessoais, como é o caso do jornalista Don Hollenbeck (Ray Wise) acusado de simpatias comunistas, ou do casal de jornalistas Joe e Shirley Wershba (Robert Downey Jr. e Patricia Clarkson), que, devido às legislações empresariais, fingem não ser casados.


De qualquer modo, este é um filme fascinante sobre a paixão que pode mover uma profissão. Especialmente se essa profissão pode de facto marcar a diferença. Através de Clooney e Strathairn esta redacção torna-se o mais importante sítio do mundo para se estar.





TAGLINE:


“We will not walk in fear of one another.”


CITAÇÕES:


“I simply cannot accept that there are, on every story, two equal and logical sides to an argument.”
DAVID STRATHAIRN (Edward R. Murrow)

“No one familiar with the history of his country, can deny that congressional committes are useful. It is necessary to investigate before legislating. But the line between investigating and persecuting is a very fine one, and the Junior Senator from Wisconsin has stepped over it repeatedly. His primary acheivement has been confusing the public mind as between the internal and the external threats of communism. We must not confuse descent from disloyalty. We must remember always, that accusation is not proof, and that conviction depends upon evidence and due process of law. We will not walk in fear, one of another, we will not be driven by fear into an age of unreason. If we dig deep into our history and our doctrine, we will remember we are not descendant from fearful men. Not from men who dared to write, to speak, to associate, and to defend causes that were for the moment unpopular. This is no time for men who oppose Sen. McCarthy's methods to keep silent or for those who approve. We can deny our heritage and our history but we cannot escape responsibility for the result. There is no way for a citizen of the republic to advocate his responsibilities. As a nation we have come into our full inheritance at a tender age. We proclaim ourselves as indeed we are, the defenders of freedom where ever it still exists in the world. But we cannot defend freedom abroad by deserting it at home. The actions of the Junior Senator from Wisconsin have caused alarm and dismay amonst our allies abroad and given considerable comfert to our enemies. And who's fault is that? Not really his, he didn't create this situation of fear he merely exploited it, and rather successfully. Cassus was right, the fault dear Brutus is not in our stars, but in ourselves. Good night, and good luck.”
DAVID STRATHAIRN (Edward R. Murrow)

“To those who say people wouldn't look; they wouldn't be interested; they're too complacent, indifferent and insulated, I can only reply: There is, in one reporter's opinion, considerable evidence against that contention. But even if they are right, what have they got to lose? Because if they are right, and this instrument is good for nothing but to entertain, amuse and insulate, then the tube is flickering now and we will soon see that the whole struggle is lost. This instrument can teach, it can illuminate; yes, and it can even inspire. But it can do so only to the extent that humans are determined to use it to those ends. Otherwise it is merely wires and lights in a box. There is a great and perhaps decisive battle to be fought against ignorance, intolerance and indifference. This weapon of television could be useful.”
DAVID STRATHAIRN (Edward R. Murrow)