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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Million Dollar Baby ****

03.03.05, Rita

Realização: Clint Eastwood. Elenco: Hilary Swank, Clint Eastwood, Morgan Freeman. Nacionalidade: EUA, 2004.





Maggie (Swank) cresceu na pobreza e o seu maior sonho é tornar-se boxista. Frankie (Eastwood) é um treinador de boxe teimoso e pessimista, que lê W.B.Yeats e que vai à igreja procurando o perdão que lhe foge há 23 anos. Maggie quer que Frankie seja o seu treinador. Frankie não treina raparigas. Mas após ser abandonado pelo seu boxista aspirante ao título e pela perseverante insistência de Maggie, Frankie acaba por aceitar o desafio. A narração desta história é feita por Scrap (Freeman), um amigo de longa data de Frankie que toma conta do ginásio, na mesma voz poética que usou em “The Shawshank Redemption” (Frank Darabont, 1994).


Tanto Maggie como Frankie acreditam que não precisam de ninguém, mas no final acabam por dar-se conta de que têm apenas (pelo menos) a ajuda um do outro. As ausências familiares de ambos são preenchidas nesta relação. E o lema de Frankie, “protege-te sempre”, passa a ser vivido a dois.


Apesar de ser um filme sobre boxe, na linha de “Rocky” (John G. Avildsen, 1976) e “O Touro Enraivecido” (Martin Scorsese, 1980), este é um facto que acaba por tornar-se secundário ao drama vivido pelos personagens.


O argumento de Paul Haggis é bastante elementar. Até o final, que se apresenta como “diferente”, é consideravelmente previsível. Eastwood dá preferência a um “combate” lento e progressivo, em que cada momento nos prepara para o momento seguinte, em detrimento de um “K.O.” rápido e surpreendente. Confesso que tendo a gostar mais do segundo. E apesar da forma sinusoidal da narrativa, que tem a expectativa de nos arrastar, devo confessar que, exceptuando a raiva pelos familiares usurpadores de Maggie, este filme não despertou em mim grandes emoções.


Mas isto não tira mérito ao trabalho de Eastwood. Com efeito aquilo que ele consegue, como actor, realizador, director de actores e até como compositor é bastante valioso, tendo em conta que parte de um texto sem grandes ambições. Eastwood consegue construir uma orgânica que dá credibilidade a todas as palavras e acções. Outro dos seus méritos é nunca deixar que o drama caia no exagero, controlando subtilmente os diversos estados de alma. Adicionalmente, oferece-nos cenas de boxe graficamente violentas, mas incrivelmente bem filmadas.


A ajudar estão Freeman, no seu consistente registo de genial actor secundário, e Swank, mostrando mais uma vez uma portentosa dedicação à personagem. O ponto forte deste filme é, com efeito, a forma sólida como estas estão construídas.


Apesar de “Million Dollar Baby” estar, na minha opinião, uns pontos abaixo de “Mystic River” (2003) é, sem sombra de dúvida, uma bela manifestação de que, aos 74 anos, Eastwood está em óptima forma para aplicar toda a sua experiência ao serviço da arte cinematográfica.






CITAÇÕES:


“Mo cuishle. It means "my darling, my blood".”
CLINT EASTWOOD (Frankie Dunn)