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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Les Temps Qui Changent ***

21.03.05, Rita

Realização: André Téchiné. Elenco: Catherine Deneuve, Gérard Depardieu, Gilbert Melki, Malik Zidi, Lubna Azabal, Tanya Lopert, Nabila Baraka, Nadem Rachati, Idir Elomri, Jabir Elomri. Nacionalidade: França, 2004.





Neste filme, Téchiné resolveu pegar no amor e sujeitá-lo ao maior teste possível: a passagem do tempo.


Antoine (Depardieu) é um bem sucedido homem de negócios. Há 30 anos atrás, terminou a relação com o amor da sua vida, Cécile (Deneuve), e, desde então, abraçou a solidão como forma de se manter mais perto dela. A sua chegada a Tânger sob pretexto de supervisionar uma obra, mais não é do que a desculpa para procurar Cécile, que vive ali com a sua família: Nathan (Melki), o seu marido; e Sami (Zidi), o filho recém-chegado de Paris, inesperadamente acompanhado pela namorada marroquina Nadia (Azabal) e o seu filho Saïd (Elomri).


Este é um tempo de confronto. Pressionada pelo aparecimento de Antoine e pelo seu constante acosso, Cécile inicia uma espiral descontrolada de emoções, na luta entre a paixão avassaladora que sentiu no passado por Antoine e o casamento rotineiro de 20 anos que a une a Nathan.


Mas também Sami se depara com a sua antiga atracção por Bilal (Rachati), confrontando-se com uma homossexualidade que tem vivido de forma incerta. Para Nadia é o regresso aos tranquilizantes e a tentativa de reencontrar a irmã gémea que se recusa a vê-la.


Cada personagem enfrenta a sua própria história e a perda do seu ideal romântico. Apenas Antoine se mantém coerente com o que sempre sentiu. Mas o que será pior: a perda de um ideal ou o desperdício de uma vida por causa desse ideal?


Com uma realização vibrante, de câmara em riste e uma montagem ritmada, Téchiné traduz o movimento perpétuo que separa e junta as pessoas, que mistura a realidade e a ilusão, o presente e o passado, a vontade de partir e o dever de ficar. A escolha de Tânger funciona também neste sentido, uma cidade entre o Ocidente e o Oriente, que vive entre os tradicionais ideias islâmicos e uma nova tecnocracia sem alma.


Um Depardieu renovado e uma Deneuve descontraída são os líderes de um elenco consistente, protagonizando – com as devidas falhas humanas de indecisão e traição – o combate entre o amor ideal e o amor realista, na tentativa de escapar à inércia da sua existência.


A epifania desta história dá-se com um acidente improvável de um dos personagens. Talvez pelo excesso de romantismo de Téchiné, a história tem aqui o seu ponto fraco, que conduz o filme a um final fácil.


Os tempos mudam. E com eles, as relações, as culturas, as cidades, e o amor. Cabe-nos a nós saber discernir o que merece a pena perpetuar e lutar por aquilo em que acreditamos.