Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Life Aquatic With Steve Zissou ****

23.03.05, Rita

Realização: Wes Anderson. Elenco: Bill Murray, Owen Wilson, Cate Blanchett, Anjelica Huston, Willem Dafoe, Jeff Goldblum, Michael Gambon, Noah Taylor, Bud Cort, Seu Jorge, Robyn Cohen, Waris Ahluwalia, Niels Koizumi, Pawel Wdowczak, Matthew Gray Gubler. Nacionalidade: EUA, 2004.





“Um Peixe Fora de Água” é uma aventura inspirada no oceanógrafo Jacques Cousteau, que une, com uma linha surreal e imaginativa, drama, comédia, acção e tragédia. Tendo em conta o passado de Anderson, a originalidade flagrante desta história acaba por não ser exactamente uma surpresa, mas uma constatação. O que não é dizer pouco.


Steve Zissou (Murray) e a sua equipa de filmagens subaquáticas têm vindo a desvendar os segredos dos Oceanos em episódios. O último relata a morte do melhor amigo de Zissou pela boca de uma tubarão-jaguar. E o próximo, que Zissou anuncia perante uma audiência estupefacta, irá consistir numa viagem de perseguição e vingança.


Pelo meio há um filho que aparece passados 30 anos (Wilson), uma persistente jornalista inglesa grávida (Blanchet), um observador de uma seguradora (Cort), uma tripulação que filma, canta, faz topless e rouba maquinaria de investigação à concorrência (Goldblum num delicioso arqui-inimigo), e uma crise matrimonial (Huston, intemporalmente bela).


O ‘peixe fora de água’ é o próprio Zissou, que perde a sua referência profissional, ao embarcar numa vingança irracional, pondo em risco o seu trabalho e a sua equipa; e a sua referência emocional, ao negligenciar o casamento com a mulher que ama. Zissou usa o tema “relação familiar” para o enredo do documentário que está a filmar, na tentativa de recuperar o seu protagonismo, e a sua relutante figura paternal, à semelhança de “The Royal Tenenbaums” (Wes Anderson, 2001) faz com que o drama familiar acabe por dominar a vertente Moby Dick da história.

A narrativa usa conceitos elementares de diversas tipologias cinematográficas, do drama familiar aos filmes de aventura, e, nas mãos de outro realizador, seria fácil estarmos perante um aborrecido cliché. Mas através da hipérbole, Anderson cria uma realidade espelho, que mostra as dores épicas e ridículas da vida humana. Através da comédia, camufla as inseguranças das personagens, criando uma fusão de gargalhadas com momentos de contemplação.


O elenco é impressionante, quer em nomes, quer no trabalho efectuado. De salientar Dafoe, como Klaus, o assistente alemão de Zissou, num registo hilariante de ciúme e possessividade. E, claro, Murray, mais uma vez exímio na dor existencial.


A realização fluida surpreende pelos planos eficazes e os ângulos de filmagem. A fantasia de Anderson vai desde as criaturas fantásticas (deliciosas animações de Henry Selick – “The Nightmare Before Christmas”, 1996) ao impressionante cenário construído do corte transversal do Belafonte, o barco de Zissou, um antigo caça submarinos. Com um destaque também para o guarda-roupa, este é um filme de cores fortes.


A música de Bowie cantada em brasileiro por Seu Jorge (“Cidade de Deus”, de Fernando Meirelles, 2002) é algo, no mínimo, deslocado, tal como as próprias personagens. Um grupo de “marginais” deslocados nas suas acções e, muitas vezes, nas suas palavras.


Abusando de num diálogo inteligente, com um humor trabalhado e irónico, Anderson oferece-nos, do fundo do mar, uma pérola.






CITAÇÕES:


“Cientista [referindo-se ao tubarão-jaguar] - What would be the scientific purpose of killing it?
Steve Zissou (BILL MURRAY) - Revenge.”

“Steve Zissou (BILL MURRAY) - You're supposed to be my son, right?
Ned Plimpton (OWEN WILSON) - I don't know. But I did want meet you, just in case.”

“Ned Plimpton (OWEN WILSON) - Why didn't you ever try to contact me?
Steve Zissou (BILL MURRAY) - Because I hate fathers, and I never wanted to be one.”

“Steve Zissou (BILL MURRAY) - We'll split into two groups. I'll take Ned, Ogata, and Wolodarsky.
Klaus Daimler (WILLEM DAFOE) - Thanks. Thanks a lot for not picking me...”