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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

The Assassination of Richard Nixon ****

30.03.05, Rita

Realização: Niels Mueller. Elenco: Sean Penn, Naomi Watts, Don Cheadle, Jack Thompson, Brad Henke, Michael Wincott. Nacionalidade: EUA / México, 2004.





Com este título, seria de esperar que esta primeira realização de Niels Mueller estivesse carregada de referências políticas, mas Mueller prefere centrar-se no drama pessoal de Samuel Bicke (Penn), que em 1974 tentou sequestrar um avião e fazê-lo despenhar sobre a Casa Branca, matando o presidente em funções, Richard Nixon.


Bicke não era um activista, era um homem desesperado, cuja vida estava numa vertiginosa espiral descendente. Talvez apenas procurasse um culpado para os problemas que não conseguia resolver e Nixon representava o tal “sistema”. Ou talvez a hipocrisia do “sonho americano” e da “terra das oportunidades” tivesse virado um pesadelo para aqueles que não conseguem dormir descansados.


O patrão de Bicke (Thompson) apresenta-o ao vendedor perfeito, Nixon, que vendeu o país duas vezes, com a mesma mentira de que terminaria com a guerra do Vietname. Mas mais do que contra Nixon, Bicke revolta-se contra uma América tão baseada no capitalismo que quem tenha um azar na vida é impedido de voltar a pôr-se de pé sem recurso à desonestidade. Bicke não odeia o dinheiro, apenas odeia ter de mentir para o conseguir, e chega o momento em que decide deixar de sacrificar a sua integridade.


Esse momento conjuga três tragédias pessoais: a sua mulher, Marie (Watts), envia-lhe os papéis do divórcio; o seu irmão Julius (Wincott) abandona-o; e o empréstimo para o seu negócio de pneus é recusado pelo banco. Objectivamente, todos estes acontecimentos têm razão de ser, mas Mueller coloca Penn em cada cena para que não nos desviemos nunca do ponto de vista subjectivo de Bicke. E, dentro da sua cabeça, somos nós mesmos a culpar o “sistema” por todos os seus azares.


Bicke gravou obsessivamente cassetes endereçadas ao compositor Leonard Bernstein, cuja música lhe transmitia toda a verdade e beleza que ele não encontrava no mundo. Nestas, ele confessava todas as suas preocupações morais, recusando-se sempre a compreender a sua própria responsabilidade nos acontecimentos.


Penn está perfeito: socialmente incapaz, incoerente, patético nas suas fixações, na sua raiva e, muito possivelmente, na esquizofrenia de Bicke. Nas belas cenas dramáticas com Watts percebemos, sem que se mostre ou seja dito, tudo o que correu mal entre eles, através das suas expressões alternadamente cheias e vazias de esperança.


Mueller faz-nos testemunhas da crescente agonia e desintegração de Bicke (será coincidência o apelido original Bick ter sido mudado para Bicke, numa aproximação a Bickle, o personagem de Robert De Niro em “Taxi Driver” de Martin Scorsese, 1976?), observando de perto as circunstâncias que podem levar uma pessoa a tomar medidas extremas.

Apesar da coincidência de este filme surgir num momento em que novamente a América se encontra a braços com uma guerra e sob o jugo de um presidente que metade do país apelida de mentiroso, este projecto foi iniciado quando Clinton ainda estava no poder. Ironias...






CITAÇÕES:


“My name is Sam Bicke, and I consider myself a grain of sand.”
SEAN PENN (Samuel Bicke)

“Certainty is the disease of kings.”


“Slavery never really ended in this country. They just gave it another name: Employee.”
SEAN PENN (Samuel Bicke)

“Richard Nixon is the greatest salesman of all time; he managed to sell the country on the same promise twice, without ever once delivering.”
JACK THOMPSON (Jack Jones)

“It's all about the money, Dick! It's all about the money, Dick! It's all about the money, Dick! It's all about the money, Dick! It's all about the money, Dick!”
SEAN PENN (Samuel Bicke)