Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Ae Fond Kiss ***

28.04.05, Rita

Realização: Ken Loach. Elenco: Atta Yaqub, Eva Birthistle, Shamshad Akhtar, Ahmad Riaz, Shabana Bakhsh, Ghizala Avan, Pasha Bocarie, Gerard Kelly. Nacionalidade: Reino Unido / Bélgica / Alemanha / Itália / Espanha, 2004.





Após uma juventude em Glasgow os três filhos da família Khan estão a tornar-se cada vez menos paquistaneses. Rukhsana (Avan), a mais velha, está feliz com o casamento organizado pelos seus pais; Sadia (Akhtar), a mais nova, tenta cuidadosamente romper os laços familiares para poder ir para a Universidade longe de casa. No meio está Casim (Yaqub), que quer que todos estejam felizes. O problema surge quando ele se apaixona por Roisin (Birthistle), uma professora de música, irlandesa e católica, incomodada pelas exigências da honra/tradição familiar de Casim (prometido casar com a sua prima), até ela ser também alvo das exigências da sua própria cultura.


Abrindo o filme com um discurso sobre como a diversidade da cultura muçulmana é ignorada pelo ocidente, Loach concentra-se no poder destrutivo de um amor proibido, uma espécie de ‘Romeu e Julieta’. O cliché da história é atenuado com uma mistura de realidade, mas o seu efeito é de menor impacto.


O mérito de Loach está em conseguir, de uma forma equilibrada e sensível, abordar não só a tirania da cultura muçulmana, as suas expectativas e estereótipos, mas também a pressão religiosa vivida no Reino Unido, patente na exigência feita pela escola de Roisin de um “certificado de aptidão” passado pelo padre da paróquia.


A combinação Ken Loach e dramas pessoais confrontados com questões sociais, é uma aposta segura, mas pouco mais do que isso. As personagens estão bem trabalhadas e os actores (um ilustre leque de quase desconhecidos) cumprem bem o seu trabalho, entre o cómico e o sensível, entre o revoltado e o perdido. Sadia, a mais jovem, numa mistura de optimismo, desafio e humildade, oferece a esperança de reconciliação entre as duas gerações.


Mas este tema do choque cultural não é novo e já foi tratado com mais originalidade e certamente humor em filmes como “East is East” (1999), de Damien O’Donnell.


Inspirado pelo poema ‘Ae Fond Kiss’ do escocês Robert Burns, o filme de Ken Loach acaba por nos dizer que o amor, seja ele de que tipo for, é egoísta, porque apenas se preocupa com ele mesmo. Mas ainda que pareça ser ele a mandar, as escolhas são nossas. Assim como as consequências.






CITAÇÕES:


“It's easy for you. You've got nothing to lose.”
ATTA YAQUB (Casim Khan)

“Did you think you could get into bed with any Tom, Dick or Mohammed and then go off and teach Catholic children. The faith of our fathers is not for the faint-hearted.”
GERARD KELLY (Padre da Paqóquia)


AE FOND KISS... (1791)
de Robert Burns (1759-1796)

Ae fond kiss, and then we sever;
Ae fareweel, alas, for ever!
Deep in heart-wrung tears I'll pledge thee,
Warring sighs and groans I'll wage thee.
Who shall say that Fortune grieves him,
While the star of hope she leaves him?
Me, nae cheerful twinkle lights me;
Dark despair around benights me.

I'll ne'er blame my partial fancy,
Naething could resist my Nancy:
But to see her was to love her;
Love but her, and love for ever.
Had we never lov'd sae kindly,
Had we never lov'd sae blindly,
Never met or never parted,
We had ne'er been broken-hearted.

Fare-thee-weel, thou first and fairest!
Fare-thee-weel, thou best and dearest!
Thine be ilka joy and treasure,
Peace, Enjoyment, Love and Pleasure!
Ae fond kiss, and then we sever!
Ae fareweel, alas, for ever!
Deep in heart-wrung tears I'll pledge thee,
Warring sighs and groans I'll wage thee.