Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Sin City *****

17.06.05, Rita

Realização: Robert Rodriguez e Frank Miller (realizador convidado: Quentin Tarantino). Elenco: Bruce Willis, Mickey Rourke, Clive Owen, Jessica Alba, Nick Stahl, Powers Boothe, Rutger Hauer, Elijah Wood, Rosario Dawson, Benicio Del Toro, Jaime King, Devon Aoki, Brittany Murphy, Michael Clarke Duncan, Carla Gugino, Alexis Bledel, Josh Hartnett, Marley Shelton, Michael Madsen, Frank Miller, Makenzie Veja, Rick Gomez, Nick Offerman. Nacionalidade: EUA, 2004.





“Cover your eyes, Nancy! I don't want you to see this.” Feito no início do filme “Sin City”, este aviso adverte também os espectadores mais sensíveis, e com risco de náuseas, para o que estão prestes a ver.


Este filme é brutal, violento, macabro, sádico, chocante, machista, cheio de clichés melodramáticos, de discursivos pensamentos em voice over, de vilões que merecem morrer (várias vezes), de heróis destemidos e de mulheres más que exalam sexo por todos os poros... Em suma: FABULOSO!


Mas, para quem conheça a obra de Frank Miller, autor da banda desenhada original e também co-realizador, isso não surpreende. Antes de ver “Sin City” (uma semana antes, mais concretamente) li dois dos livros da colecção: “The Hard Goodbye” e “A Dame To Kill For”. Este primeiro filme (que já promete ser uma trilogia de devoção para 2006 e 2008) baseia-se em três dos livros de Miller: “The Hard Goodbye”, “That Yellow Bastard” (que li ontem numa Fnac, apenas disponível em versão original) e “The Big Fat Kill”, aproveitando uma pequena fala de “A Dame To Kill For”. Cada um deles centra-se numa personagem: Marv (Mickey Rourke); John Hartigan (Bruce Willis) e Dwight McCarthy (Clive Owen), respectivamente.


As três histórias são contadas separadamente, com diversos apontamentos a interligá-las. Poderá haver alguma confusão cronológica, especialmente para quem nunca tenha entrado em contacto com a obra de Miller. Mas um pouco de atenção revela a solidez e consistência deste universo noir que é Basin City (numa da imagens do filme, Rodriguez aproveita para borrar as duas primeiras letras no letreiro à entrada da cidade).


O preto e branco foi mantido, com as ocasionais pinceladas de cor (vermelho, amarelo e os olhos azuis da mais nova das “Gilmore Girls” – Alexis Bledel como Becky). Tendo sido totalmente filmado em fundo verde, “Sin City” mantém-se impressionantemente fiel à BD, ao seu grafismo e ao seu ambiente. Talvez um pouco mais discreto na nudez.


O manancial de violência neste filme enche as minhas medidas, ainda que os jorros de sangue sejam brancos. E não posso deixar de referir a delícia que são os movimentos precisos da “deadly little Miho” (interpretada por Devon Aoki), com as mesmas espadas herdadas de “Kill Bill: Vol.1”. Aliás, Tarantino foi convidado para realizar um segmento do filme – a cena entre Dwight (Clive Owen) e Johhny Boy (Benicio del Toro) antes do primeiro ser mandado parar pela polícia – pelo que recebeu 1 dólar de pagamento, o mesmo que Rodriguez tinha recebido por compor um trecho musical para “Kill Bill: Vol.2”.


As representações são poderosas, sem excepção. Rourke é Marv, um homem quase monstro que, sem olhar a meios e pondo a sua liberdade condicional em perigo, vai procurar vingar a morte da única mulher que lhe deu afecto, Goldie (Jaime King). Owen é Dwight, que, tendo matado acidentalmente um polícia, se esconde junto das suas amigas prostitutas em Old Town, a quem protege. A sua relação de “sempre... nunca” com a dominadora chefe do grupo Gail (Rosario Dawson) traz-nos os momentos mais, digamos, carnais. Willis é Hartigan, um bom polícia (e por isso raro em Basin City, onde a corrupção é a moeda de troca) no seu último dia de trabalho antes da reforma, com a última missão de salvar uma rapariga de 11 anos das garras de um pervertido, que acontece ser filho do poderoso Senador Roark.


As interpretações são soberbas, sobretudo Rourke (imagine-se!!! talvez “Sin City” faça por ele o que “Pulp Fiction” fez por Travolta) e até os vilões foram genialmente escolhidos: Benicio del Toro, Rutger Hauer, Nick Stahl, Powers Boothe e Elijah Wood - quem diria que um Hobbit que tem medo de um anel seria tão assustador como o silencioso e mortal Kevin? Arrepiante!


Pela selecção de actrizes, lindas e para todos os gostos, pensei que o filme mostrasse mais delas. Mas não, esta é uma história machista (e isto não é uma crítica), e nessa medida é quase como se fosse um conto de fadas. As mulheres são meros pretextos para ódios, amores, vinganças, salvamentos e basicamente não passam de pedaços de carne, dos bem apetecíveis e suculentos. Curiosamente a única mulher que não é prostituta, stripper ou empregada de mesa, a primeira vez que aparece fá-lo em topless – abençoada Carla Gugino!


Os diálogos (passando pelas as eloquentes discussões entre Mr.Klump e Mr.Schlubb), a direcção artística, a caracterização, a intensa acção, são todos eles irrepreensíveis. De juntar a música composta maioritariamente pelo mesmo Robert Rodriguez (obrigada por não teres colocado o Banderas neste filme!).


“Sin City” é feito de personagens cínicos, com rasgos de esperança e sentimento. Uma apelativa viagem estética pela depravação e perversidade humanas. Uma cidade de refúgio para a moralidade, de excessos e sem alma. Os públicos não deverão ser maioritariamente femininos, mas elas é que ficam a perder.









CAMEOS:


ROBERT RODRIGUEZ - usando o seu chapéu de cowboy quando Hartigan entra no Kadie’s Bar à procura de Nancy.

QUENTIN TARANTINO - na parte final do segmento “That Yellow Bastard”, sentando ao lado de Marv vendo Nancy dançar no palco.

FRANK MILLER - no papel de padre, contracenando com Marv.


CITAÇÕES:


“Walk down the right back alley in Sin City, and you can find anything...”
MICKEY ROURKE (Marv)

“I love hitmen. No matter what you do to them, you don't feel bad.”
MICKEY ROURKE (Marv)

“Modern cars - they all look like electric shavers.”
MICKEY ROURKE (Marv)

“She smells like angels ought to smell.”
MICKEY ROURKE (Marv)

“That's the thing with dames, sometimes all they gotta do is let it out and a few buckets later there's no way you'd know.”
MICKEY ROURKE (Marv)

“I can only express puzzlement, which borders on alarm.”
RICK GOMEZ (Klump)

“She doesn't quite chop his head off. She makes a Pez dispenser out of him.”
CLIVE OWEN (Dwight)








































1 comentário

Comentar post