Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Batman Begins ****

29.06.05, Rita

Realização: Christopher Nolan. Elenco: Christian Bale, Michael Caine, Liam Neeson, Katie Holmes, Gary Oldman, Cillian Murphy, Tom Wilkinson, Rutger Hauer, Ken Watanabe, Linus Roache, Morgan Freeman. Nacionalidade: EUA, 2005.





O único super-herói em “Batman Begins” (e porque sabemos que Batman não dispõe de nenhuns poderes sobre-humanos) é Christopher Nolan, o realizador (“Memento” – 2000 e “Insomnia” – 2002). O mito de Batman renasce, e não porque tenha falecido durante os anteriores filmes (“Batman” (1989) e “Batman Returns” (1992), de Tim Burton e a progressiva queda com “Batman Forever” (1995) e “Batman & Robin” (1997), de Joel Schumacher), mas porque nunca, nenhum deles, fez jus à essência da personagem criada por Bob Kane.


Baseado com alguma liberdade no livro “Batman: Year One”, de Frank Miller (este é o seu ano, ver ”Sin City”), “Batman Begins” conta a história do herdeiro industrial Bruce Wayne (Christian Bale), que, na sua infância, assiste à morte dos seus pais durante um assalto. Nesse momento jura uma luta contra o crime que o levará, mais tarde, a assumir a identidade de Batman, um vingador mascarado de morcego. Mas essa luta vai-lhe exigir conhecer o desespero e a violência que estão associados ao crime, e é o seu mentor Henri Ducard (Neeson) que o guiará nesse caminho. A dado momento, Wayne terá de decidir entre seguir a Liga das Sombras, liderada por Ra's Al Ghul (Watanabe) ou defender a cidade de Gotham. Ele escolhe a segunda.


A história pessoal de Wayne é, pela primeira vez, tratada com a importância e a relevância que merece. A sua evolução depende desse ponto de partida, uma vez que é a resposta emocional aos seus traumas de infância. A consistência com que é tratada esta parte, no entanto, não prejudica de nenhuma forma a acção. E Bale transforma-se, sem falhas, da pessoa que tem medo para a pessoa que o causa, num misto de frustração e a esperança pela condenada, mas ainda salvável, Gotham.


É louvável a preocupação do argumento de Nolan e David S. Goyer em tornar plausível a forma como Wayne adquiriu o seu fato e o seu carro, por exemplo, e o mesmo acontece com a movimentação física e acrobática de Batman. O próprio background social e político da cidade de Gotham faz com que Batman se torne necessário e não acessório.


Christian Bale faz-nos esquecer por completo Michael Keaton, Val Kilmer e George Clooney (quem?). A sua dupla face entre a leveza do playboy e a gravidade de Batman nunca foi tão perturbada, tão emocionalmente negra e cheia de raiva, e, ao mesmo tempo, tão sensível e tão profundamente solitária.


Mas Bale tem o apoio de um elenco de excepção. Além de Neeson, Gary Oldman tem um trabalho admirável como Jim Gordon, o único polícia aliado de Batman. Morgan Freeman é Lucius Fox, trabalhador da Wayne Industries relegado para uma posição inferior pela actual administração e que facilita a Wayne o acesso ao arsenal de maquinaria. Tom Wilkinson está sadicamente mafioso como Carmine Falcone, ainda que o seu look tenha muito pouco de italiano. Michael Caine, como o mordomo Alfred, está irrepreensível, como arma de motivação (e de humor) para Wayne. Liam Neeson tem aqui uma poderosa interpretação. E, finalmente, a poderosa interpretação de Cillian Murphy (“28 Days Later” - 2002) como o arrepiante psiquiatra Dr.Jonathan Crane, caminhando entre a sanidade e a obsessão.


Katie Holmes como a amiga de infância e delegada do procurador Rachel Dawes, que nem começa mal, acaba por descambar no doce enjoativo de “Dawson’s Creek”, ficando milhas atrás de qualquer das ‘Batman Girls’ anteriores (Kim Basinger, Michelle Pfeiffer, Nicole Kidman e Uma Thurman).


O cheirinho a “The Birds” (1963), de Hitchcock, é a pedra de toque nas cenas com morcegos, sonora e visualmente assustadoras. Em suma: entretenimento e arte juntam-se aqui para nosso bel-pazer. Divirtam-se, enquanto se espera pela sequela.






CITAÇÕES:


“Why do we fall, sir? So that we might better learn to pick ourselves up.”
MICHAEL CAINE (Alfred Pennyworth)

“No gun? I'm insulted! You could have just sent a thank-you note.”
TOM WILKINSON (Carmine Falcone)

“We have nothing to fear... but fear itself!”
CILLIAN MURPHY (Dr. Jonathan Crane)

“It’s not who I am underneath but what I do that defines me.”
CHRISTIAN BALE (Bruce Wayne/Batman)