Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Señora Beba ***

22.07.05, Rita

T.O.: Cama Adentro. Realização: Jorge Gaggero. Elenco: Norma Aleandro, Norma Argentina, Marcos Mundstock, Raúl Panguinao, Elsa Berenguer, Susana Lanteri, Claudia Lapacó, Mónica Gonzaga, Eduardo Rodríguez. Nacionalidade: Colômbia / Espanha, 2005.




O título original deste filme é “Cama Adentro”, expressão usada para designar as empregadas domésticas com direito a cama (e entrada de serviço), mas foi modificado para evitar referências ao filme de Alejandro Aménabar.


Da sua vida abastada no seio da burguesia de Buenos Aires, Beba (Norma Aleandro) apenas retém Dora (Norma Argentina), sua empregada há quase 34 anos, e a quem deve o salário de vários meses. Dora tem vindo a construir uma casa na periferia, para a qual necessita dessa fonte de rendimento. A muito custo, e contra a vontade de Beba, Dora decide abandonar o seu posto de trabalho. Pouco resignada a modificar os seus hábitos e a sua posição, Beba faz disfarçadas viagens à loja de penhores e quase humilhantes visitas ao ex-marido, acabando por confundir dignidade com arrogância.


O choque de classes e os seus códigos confundem-se numa relação que os anos tornaram mais profunda que o profissional, e onde a lealdade triunfa sobre a amargura. O afecto subliminar que une estas duas mulheres, e que contrasta com o afastamento entre Beba e a sua filha, é aquilo que lhe permite fazer face à pobreza que se aproxima.


À semelhança de “Luna de Avellaneda”, de Juan José Campanella, a crise argentina é o pano de fundo deste filme intimista, que venceu o Prémio Especial do Júri na edição deste ano do Festival de Cinema Independente de Sundance.


Aleandro, que já tínhamos visto no papel de mãe no filme “O Filho da Noiva” (2001), também de Campanella, teve um grande papel construído à sua medida, enquanto Argentina, numa terna interpretação, competiu com 800 candidatas por representar algo bastante perto da sua vida real como empregada de limpeza.


Através de um ritmo espaçado e silencioso, somos cúmplices desta história que contrapõe as escassas condições de trabalho com a grandeza (muitas vezes ainda mais escassa) do ser humano.




CITAÇÕES:


“Una de las cosas que quise hacer en esta película es explorar la historia de dos mujeres provenientes de culturas diferentes, dos mujeres arraigadas en sus mutuos prejuicios de clase, pero unidas por la experiencia de tener que convivir tres décadas bajo el mismo techo.

A través de esta historia, traté de abordar mis propias inquietudes sobre la crisis económica y cultural de mi país y preguntarme en qué medida un desmoronamiento tan significativo como el que se dio en la Argentina en los últimos años puede suscitar un cambio o una liberación en la manera en que se relacionan las personas.

Me interesa que esas inquietudes puedan alcanzar al espectador, contaminándose con sus propias experiencias y estimulándolo a indagar adentro suyo por alguna respuesta. No se si lo he logrado. A veces veo la película y me resulta demasiado optimista y me pregunto si realmente los seres humanos de distintos grupos sociales pueden llegar a hacer un progreso sustancial hacia un mutuo entendimiento. Quiero creer que si, pero los tiempos que vivimos no nos dan tatos muy alentadores. Otros días, si embargo, siento que Beba y Dora al menos han podido acercase y eso me hace sentir la persona más optimista que puedo ser.”


JORGE GAGGERO (Realizador) </font>