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CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

CINERAMA

CRÍTICA E OPINIÃO SOBRE CINEMA

Night on Earth ****

19.08.05, Rita

Realização: Jim Jarmusch. Elenco: (Los Angeles) Gena Rowlands, Winona Ryder; (Nova Iorque) Armin Mueller-Stahl, Giancarlo Esposito, Rosie Perez; (Paris) Isaach De Bankolé, Béatrice Dalle, Pascal N'Zonzi, Emile Abossolo M'bo; (Roma) Roberto Benigni, Paolo Bonacelli; (Helsínquia) Matti Pellonpää, Kari Väänänen, Sakari Kuosmanen, Tomi Salmela. Nacionalidade: França / Reino Unido / Alemanha / EUA / Japão, 1991.





“Noite na Terra” é um relato episódico sobre a relação que se pode estabelecer entre duas pessoas que a única coisa que têm em comum é um trajecto de taxi. À mesma hora exacta, em cinco cidades diferentes, cinco taxistas apanham mais um passageiro.


Los Angeles: 07:07 PM.
Victoria (Gena Rowlands), agente cinematográfica, apanha um taxi do aeroporto com a maria-rapaz Corky (Winona Ryder), que não se deixa impressionar pelo poder de Victoria, nem pelo convite para se tornar numa estrela de cinema, preferindo seguir o seu sonho de ser mecânica como os irmãos mais velhos.

Nova Iorque: 10:07 PM.
YoYo (Giancarlo Esposito) consegue finalmente apanhar um taxi, mas cedo descobre que o seu condutor, Helmut (Armin Mueller-Stahl), um emigrante da Alemanha de leste, não faz ideia de como se conduz. É Yo Yo que que acaba por conduzi Helmut até Brooklin, não sem antes dar boleia à sua histérica cunhada Angela (Rosie Perez).

Paris: 04:07 AM.
Um taxista originário da Costa do Marfim (Isaach De Bankolé) expulsa dois diplomatas bêbados do seu carro, irritado pelos seus comentário preconceituosos. Apanha de seguida uma sarcástica mulher cega (Béatrice Dalle), e, desta vez, o preconceituoso é ele.

Roma: 04:07 AM.
Um padre (Paolo Bonacelli) é conduzido por um taxista (Roberto Benigni) que aproveita aquele serviço para confessar os seus pecados sexuais, da forma hilariante que apenas Benigni consegue. Enquanto isso, o seu passageiro agoniza no banco de trás com um ataque cardíaco.

Helsínquia: 05:07 AM.
No segmento mais melancólico, lembrando Aki Kaurismäki, Mika (Matti Pellonpää) responde à chamada de três colegas bêbados que se lamentam pela trágica má sorte de um deles. Mas Mika surpreende-os com uma história ainda mais dolorosa.

Cada um dos segmentos começa com imagens desoladoras, de edifícios, fachadas de bares fechados, carros abandonados, e relógios que marcam o tempo, inexorável. O taxi é, por excelência, um local de encontro, a maioria das vezes relegado para uma circunstância intermédia e sem relevância. E a noite o instante das vulnerabilidades.


Estas histórias sobrepostas capturam o carácter transitório da vida urbana, os encontros imprevisíveis, momentos mundanos e inconsequentes que ocorrem entre aquilo que costumamos considerar importante na vida: “live is what happens in between”.


O importante neste filme, onde pouco acontece, são as personagens, os diálogos, o ambiente e as relações que se estabelecem num período de tempo muito breve. Pela excentricidade de cada um são aflorados conceitos de pertença e de solidão. Mas a sensibilidade de Jarmusch perante as diferenças culturais impede uma visão preconceituosa e distante.


A valsa “Good Old World” de Tom Waits arrepia, e deixa-nos areia nos ouvidos, da mesma forma que o filme de Jarmusch crava em nós aqueles pedaços inacabados de vidas. Como diz Jarmusch: “Life has no plot, no real conclusion”.






CITAÇÕES:


“I've got my life all mapped out. There must be lotsa girls who want to be in the movies. Not me.”
WINONA RYDER (Corky)

“Taxista em Paris (ISAACH DE BANKOLÉ) – Don't blind people usually wear dark glasses?
Blind Woman (BÉATRICE DALLE) – Do they? I've never seen a blind person.”

“"Say a guy breaks up with his girl over the phone and he decides to go to see her and we cut from him leaving his apartment to him entering hers." That's missing the essential elements according to Jarmusch. He wants to show the man on the way to her apartment, show "how he was feeling, what he did and how he got there."”
JIM JARMUSCH, entrevista com Geoff Andrew, The Guardian, 15 Novembro 1999
























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